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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

O que faz um médico ser FODA – na visão de um ”cirurgião” que tem medo de sangue

 

O novo médico e a decadência da formação

É assombroso o baixo nível dos médicos que estão sendo formados. E os bons são os de antigamente. Isso se percebe até na formação básica, no domínio de matérias elementares de humanas, como português, conhecimentos gerais, fatos históricos, repertório cultural, consciência social e de classe, sociologia e filosofia—questões sobre as quais muitos nunca sequer ouviram falar.

 

É claro que o médico é um técnico da saúde e não dá para exigir muito além disso. Mas nem o básico? Nem o mínimo? Como pode um médico que mal sabe escrever redigir uma receita, um relatório ou estabelecer um diagnóstico detalhado? Ora, se o ser humano é um animal de linguagem, e se usamos a palavra para pensar, então um médico de vocabulário pequeno terá um pensamento curto, uma capacidade de análise limitada e uma competência reduzida para resolver problemas e estabelecer corretamente a causalidade das doenças. Sua limitação intelectual e cognitiva, decorrente do déficit linguístico e da falta de repertório cultural, compromete sua prática profissional.

 

Medicina ou curandeirismo?

Se um homem da roça, sem estudo, praticasse medicina, ele não seria médico—seria curandeiro. O médico deve ser um especialista em saúde, estabelecer relações de causa e efeito. Não pode confundir o desconhecido com o imaginado, nem substituir ciência por fé. Um médico de fé é um xamã ou um bruxo. Se eu tiver meu coração operado, quero que meu cirurgião seja ateu. Não espero que ele faça uma oração. Se ele disser “seja o que Deus quiser”, eu saio da mesa de operação na hora. Não, eu quero que ele bata o pau na mesa - o bisturi, no caso - e diga: “Eu sou foda. Eu não vou tremer. Não vou cortar uma artéria errada do seu coração.”

 

O especialista burro

A especialidade, por sua vez, limita o médico, coloca-lhe cabresto. O conhecimento precisa ser abrangente. O especialista sabe muito sobre uma coisa e ignora todas as outras—como se fosse um homem com um único membro avantajado. Um monte de orelha. Ou um monte de braço. É necessário ter uma visão geral.

 

O filósofo Roberto Machado conta o caso de uma aluna que, ao defender uma tese sobre Nietzsche, citou Goethe. Ele perguntou o que Goethe pensaria sobre aquele assunto, e ela respondeu que estudou Nietzsche, não Goethe. Ele considerou essa resposta medíocre, pois mostrava falta de abrangência e profundidade—como um tocador de realejo que, ao ter a manivela quebrada, perde toda a utilidade. Assim são alguns especialistas.

 

Médicos ou engrenagens de WhatsApp?

Por isso admiramos os platonistas de pronto-socorro 24 horas, os médicos de Dr. House, os diagnósticos complexos de The Good Doctor. Mas, no mundo real, há ainda a limitação imposta pelo próprio campo social. Sendo os médicos uma categoria intelectual composta, em sua maioria, por medíocres, interagem apenas entre si, e sua maior profundidade intelectual se resume a fomentar debates em defesa de Bolsonaro por meio de áudios (por que ele não sabe escrever) em grupos de WhatsApp e a trocar figurinhas de memes na plataforma. Reproduzem-se e casam-se entre si, enclausurados em um meio que não questionam.

 

Mas como pode um médico exercer empatia se ele foge do sofrimento, mas trabalha com a doença? Se evita pobres, mas seus pacientes são pobres? Seus funcionários são pobres? Como pode entender a dor se busca apenas conforto, se se relaciona apenas com seus iguais, se conhece a pobreza apenas pelo vidro blindado do carro e pela TV?

 

Alguns, graças a Deus, já são tão bem-sucedidos em suas áreas que nem precisam mais atender pobres. Esses escurinhos.

 

O médico precisa ter “pose”

E aí vem o mau gosto.

 

Mas empatia não significa falta de altivez. O pathos do distanciamento e a liturgia do cargo são essenciais na relação entre médico e paciente. Por isso, sua postura, seu modo de agir, sua forma de falar, os objetos que possui—tudo deve demonstrar, de longe, a que classe ele pertence. Ele é um doutor. Um médico. Alguém que tem conhecimento, que é foda, que tem postura. Alguém em quem se pode confiar. Alguém a quem você se entrega ao receber uma notícia ruim, pois sabe que ele te conhece por dentro—literalmente. Você não entrega seu diagnóstico e sua saúde para um qualquer.

 

Mas os médicos perderam esse orgulho necessário. Que pena.

 

Isso não significa que não possam falar com os subalternos—devem, aliás. Mas ao falar, sua postura, sua linguagem falada e não falada devem demonstrar sua superioridade moral, intelectual e financeira.

 

A mediocridade que virou regra

Mas como esperar isso, se a própria classe médica já não se importa mais com cultura, com distinção, com literatura, artes, moda, arquitetura—esses símbolos clássicos de status social? Querem se diferenciar pela carteirada, pela mediocridade, pelo simples fato de ter um diploma na parede e pelo senso comum que os chama de “doutor”.

 

Médicos se formam aos montes todos os anos. Mas será que você é um doutor? Um médico foda?

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 07/03/2025
Alterado em 07/03/2025
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