Reaça, reaça… Se ao menos seu álibi fosse apenas o de ser uma pessoa pouco lida… Mas não, você internaliza sua ignorância e seu ódio tão profundamente que eles já fazem parte da sua personalidade.
Veja, por exemplo, como você prega valores cristãos como caridade e humildade, mas ao mesmo tempo defende o capitalismo sem freios. Acusa o Estado de paternalismo e critica políticas sociais voltadas para reparação histórica de negros e minorias, mas jura que a caridade é um valor fundamental. Ora, como pode defender um sistema em que, se alguém for verdadeiramente humilde, será engolido sem piedade? O capitalismo incentiva a competição, o lucro, a individualidade extrema—é um sistema egoísta por excelência.
Agora, imagine um empresário que resolve ser genuinamente humilde: “Esse mês não precisamos bater a meta, está tudo bem.” Ou ainda: “Ah, tudo bem deixar meu concorrente lucrar muito mais do que eu mensalmente e anualmente. Sou humilde, me contento em pagar para manter a empresa e contribuir com a sociedade de forma altruísta, ajudando a sustentar famílias.” Ou então: “Não vou explorar meus funcionários, afinal, a humildade é mais importante.” Quanto tempo esse empresário resistiria antes de ser esmagado pelo próprio mercado que, segundo você, se autorregula? Mas será que você já refletiu sobre isso, com sua profundidade de pires?
O capitalismo ignora a desigualdade estrutural que ele mesmo gera e se recusa a lidar com o impacto social disso. Onde entra aí o amor ao próximo, essa virtude teologal que você diz seguir? Que tipo de amor é esse, reaça, que rejeita políticas de cotas e reparação histórica? Que amor cristão é esse que se resume a dizer “todos são iguais” enquanto trabalha ativamente para impedir que alguns tenham as mesmas oportunidades?
Você diz que o Estado deve ser mínimo, que não deve interferir na competitividade do mercado, mas ao mesmo tempo acredita que o ser humano, por natureza, não age por caridade, e sim por interesse próprio. Eis mais uma contradição: se você reconhece que as pessoas não são naturalmente altruístas, então como espera que uma sociedade desigual, sem qualquer intervenção, corrija sozinha seus próprios problemas?
E que cristianismo curioso é esse, que se diz amoroso, mas quer expulsar o próximo porque ele não nasceu no mesmo país? Você diz que somos todos irmãos, mas desde que esse irmão não roube seu emprego, não more no seu bairro, não estude na mesma escola que seu filho, não namore sua filha. É fácil amar o outro quando ele está a um muro de distância, não é? Que homem bom você é, reaça, tão cristão, tão patriota, tão defensor da moral.
Mas basta ter dinheiro para que você corra para os Estados Unidos sem o menor complexo de vira-lata. E se for pobre, reclama do SUS enquanto usa o SUS. Defende com fervor o capitalismo e a meritocracia, mas, na hora do aperto, está encostado no Estado, garantindo seu salário como funcionário público, porque, sejamos honestos, você não sobreviveria na iniciativa privada nem no empreendedorismo que tanto exalta.
E quando o assunto é violência, sua solução para problemas complexos sempre é simples: mais armas para a população! Como se todo cidadão fosse virar o John Wick na hora do desespero. Se até o Bolsonaro teve sua arma roubada, o que dirá o tiozão que comprou um revólver achando que ia virar justiceiro? Mas você nunca para para pensar que a violência individual é um sintoma de algo maior: a violência estrutural do sistema capitalista, que cria desigualdade e, consequentemente, insegurança. Falta de investimento em defesa, bullying, discursos de ódio, segregação de minorias, lares desestruturados, educação precária—tudo isso alimenta a violência que você acredita resolver com uma bala na testa.
E quando alguém aponta essas contradições, sua resposta é previsível: fugir. Em vez de encarar a realidade, você escolhe viver numa bolha higienizada, onde a desigualdade só existe na televisão ou atrás do vidro blindado do seu carro. Defende um apartheid social onde os pobres devem ter seus próprios elevadores, suas próprias escolas, seus próprios espaços—desde que não se misturem com você.
E assim, dentro da sua seita da meritocracia, você se cerca apenas de iguais. Uma verdadeira maçonaria do privilégio, onde os mesmos de sempre reproduzem entre si as mesmas ideias, interagem apenas entre os seus, casam entre si, contratam entre si, garantindo que nada mude, que tudo permaneça como está. No fim, a meritocracia que você tanto defende não passa de um clube fechado, onde só entra quem já nasceu com a senha certa.
Porque, no fundo, você sabe: se realmente existisse mérito, você estaria f*dido.