Como Ricardo III, eu dou meu reino – não por um cavalo, mas por uma foto sua. Como pode uma simples imagem em pixels da pessoa amada ter o poder de transformar nosso dia?
“Purple Rain”, linda música do Prince. Um amigo meu tem uma tese curiosa: ele jura que as mulheres sentem desejo ao ver um homem vestido de roxo e sentem vontade imediata de transar. Diz ele que essa cor, por algum efeito místico e inconsciente, tem um poder afrodisíaco sobre elas – que libera sua libido e as faz querer, por toda a mente e corpo, aquele que veste essa cor. Para ele, a cor do prazer, do pecado e da entrega não é o vermelho, mas o roxo.
E eu sou obrigado a concordar, porque hoje vi a própria Vênus de Milo vestida de roxo. Um belo vestido de caimento simples, insinuando com pudor as delicadezas de seu contorno, mas, ao mesmo tempo, realçando a beleza do seu rosto. E essa imagem, esse vislumbre, me fez tocar a dimensão do divino. Por um instante, compreendi a teoria da Metáfora da Carruagem de Platão.
No Fedro, através dos diálogos de Sócrates, Platão nos apresenta essa metáfora. Ele afirma que a beleza é uma das poucas Ideias que ainda podemos perceber neste mundo sensível, pois mantém um vínculo direto com o divino. A beleza, nesse contexto, é um reflexo do mundo das Ideias e tem um papel crucial no despertar da alma para a verdade. E foi isso que essa imagem me proporcionou: um contato com o divino, um apaziguamento da alma, uma elevação.
No Hípias Maior, o diálogo entre Sócrates e o sofista Hípias termina em aporia, sem solução. Mas isso porque ele não viu a foto que eu vi. Se tivesse visto essa deusa humana vestindo roxo, talvez chegasse a outra conclusão. Acho que foi nessa ideia platônica da beleza que ele intuiu que a verdadeira beleza é um contato direto com o divino – como se minha musa fosse conduzida por Apolo em uma carruagem alada.
Se Páris a tivesse visto, teria preterido Afrodite e a guerra de Troia jamais teria acontecido. Se Helena tivesse essa concorrência, não haveria destruição alguma. A causadora da discórdia entre deuses e troianos teria origem italiana, com dois “n”, para dar um charme a mais.
E voltando ao meu amigo, eu concordo com ele – mas aplico a teoria ao feminino. O efeito dionisíaco que essa musa em roxo me proporcionou teve um resultado claro: eu queria transar!
Ah, se eu pudesse, todo dia, ter o deleite de ver uma foto assim… Mas isso não é concedido a qualquer mortal. Para conquistar o coração de uma deusa, ou se nasce deus, ou se nasce herói. Como Ulisses, que enfrentou mares e monstros por sua amada.
Somente uma única imagem sua me deu essa oportunidade, meu amor. Dê-me essa mesma visão todos os dias, e eu também serei herói!