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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

O PSIQUIATRA DO DAVE LE DAVE DEVE SER FODA!

 

A Sabedoria do Chefe

Trabalhei com um profissional que dava bons conselhos. No meio do expediente, do nada, ele alertava: “Pessoal, bebam água!”. Também gostava de nos incentivar a fazer carteirinha no Sesc.

 

Uma vez, arranquei risada de todo mundo porque, na época, estava viralizando aquele meme do “Rei do Camarote”, que começava com: “Meu nome é etc., e hoje eu vou pra balada”. Aí imitei a voz do nosso chefe e soltei bem alto: “Meu nome é George Coutinho, e hoje eu vou pro Sesc Pompeia!”.

 

O Palhaço e Seus Conselhos

Ele era muito fã do filme O Palhaço e do cinema nacional. Vivia chamando todo mundo de “febre de rato” e repetia sempre a frase do filme O Palhaço, interpretado pelo brilhante Selton Mello: “O rato come queijo, o gato bebe leite… e você, faz o que gosta?”.

 

Era chato, ranzinza, se atrapalhava sob pressão e, às vezes, revelava certa incompetência. Mas, sem dúvida, era um patriota e tinha um bom coração. Para tentar disfarçar o nervosismo, gostava de repetir uma frase que ele achava sábia: “Nem tudo está perdido quando ainda resta uma esperança. Abriremos a barriga do lobo, e a vovozinha, que foi engolida há pouco, talvez ainda tenha vida”. Eu ter decorado isso já diz o quanto ele repetia.

 

A Lições do Chefe

Mas uma de suas lições mais valiosas era: Amigo, você pode não saber a solução de um problema, mas tem que ter o telefone de quem sabe”.

 

Essa frase reflete bem a ideia de que nem sempre sabemos a resposta de imediato, mas precisamos saber onde buscar, como pesquisar e a quem recorrer. Como diz meu irmão, até para usar a internet e a inteligência artificial é preciso conhecimento e discernimento para filtrar a informação e não cair em fake news.

 

A Psicologia e a Terapia

Leminski dizia que, se ele não conseguisse resolver um problema psicológico sozinho, não via mal nenhum em procurar um médico ou alguém que soubesse mais sobre o assunto—um psiquiatra, um psicanalista, um psicólogo. Afinal, saber pedir ajuda também é um tipo de inteligência.

 

Por um tempo, fui negacionista em relação aos psicólogos. Achava que a formação deles era algo menor, que não exigia estudo de verdade, como se fossem médicos falsos. Também não acreditava no poder da terapia além dos medicamentos, achando que meu repertório e minha própria reflexão eram mais necessários. E, de fato, a maioria dos psicólogos tem uma formação fraca—muitos nem sabem ouvir, que é o mínimo que a profissão exige. Mas, para quem não consegue dialogar consigo mesmo, esses profissionais podem ser uma ajuda valiosa.

 

A Solidão na Era Contemporânea

O grande problema das pessoas hoje é a solidão. Especialmente os mais velhos, que perderam os filhos ou foram abandonados por eles, que não têm mais trabalho nem convívio social, que não têm ninguém para conversar. Por isso, quando encontram alguém na rua disposto a ouvir, alugam a orelha da pessoa. Também não têm o hábito de prazeres individuais—leitura, cinema, música, arte em geral. Para essas pessoas, um psicólogo ou um grupo de apoio é essencial.

 

Mudança de Perspectiva: Narcóticos Anônimos

Mudei minha opinião quando frequentei grupos de Narcóticos Anônimos. Escutar histórias e compartilhar as nossas nos deixa mais leves, mesmo que, às vezes, também seja um fardo, porque as conversas relembram o passado. Hoje, prefiro evitar e lidar com essa parte do processo sozinho.

 

O Psiquiatra Jovem

Mas meu médico do hospital especializado da USP—onde faço acompanhamento para narcóticos—é jovem e bonito, meninas. Tem menos de 40 anos, é sempre elegante e bem arrumado. Esse distanciamento que ele mantém em relação aos pacientes, com a liturgia do cargo, me passa confiança e competência. É um ótimo profissional. Ele me ganhou quando trocou minha medicação, a periciazina—um remédio fortemente dopante que me deixava confuso. Sem que eu dissesse nada, ele falou: “Esse remédio é mais velho que eu. Existem opções mais modernas, vou trocar.” E nunca mais me senti dopado nem tive episódios de confusão mental repentinos.

 

A Troca de Experiências com o Médico

É claro que uma vida mais saudável, a escrita e atividades intelectuais também ajudam. Como sou um interlocutor inteligente, conversamos bastante. Perguntei o que leva alguém tão jovem a se tornar psiquiatra, quais são os limites éticos da profissão—porque ele pode receber confissões de crimes de pacientes—e como lida com isso. Também perguntei se ele absorve os problemas dos outros ou se consegue dormir tranquilo. De certa forma, existe uma troca nessas conversas. Ali, eu também sou um pouco psiquiatra dele, ouvindo suas inquietações. E ele me revelou que também precisa de psiquiatra.

 

A Sociedade da Ansiedade

E quem hoje não precisa de psiquiatra nessa sociedade da velocidade, onde todos são ansiosos, capitalista, que promove a competição entre os indivíduos? A psiquiatria é uma das filas de espera mais longas que temos no SUS. Alguns casos mais graves: depressão severa, suicídio, transtorno de comportamento de humor, sociopatia, discussões sexuais e parafilias. Claro, também existem casos menores, como depressão leve, TDAH e, principalmente, a ansiedade.

 

Todos precisam da sua sertralina, do seu prozac, rivotril, diazepam, quetiapina para dormir, etc. É por isso que sempre acreditei no poder benéfico da medicina, da psiquiatria e dos medicamentos. Nunca tive preconceito em detrimento da psicanálise e da psicologia. Sempre irei preferir uma ciência, uma formação profissional com anos de capacitação, embora alguns profissionais não sejam como meu médico—jovem, bonito, com menos de 40 anos—mas, sim, uns dinossauros retrógrados ou mesmo jovens que te atendem com o olhar baço da ignorância, com um poder de concentração e análise de causa e efeito tão limitado que nem conseguem te escutar por 10 minutos!

 

O Conselho Final

Então, eu sigo o conselho do Coutinho e afirmo: Eu sou ruim, mas meu psiquiatra é foda!”

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 04/03/2025
Alterado em 04/03/2025
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