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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Não se responde “eu te amo” com “muito obrigado”

 

O estranho no paraíso

The O.C. – Um Estranho no Paraíso foi minha série predileta durante um bom tempo. Ryan, um marginal que morava na casa da piscina dos Cohen e foi quase adotado como irmão de Seth, era um personagem insosso, mas troglodita. Contrastava com Seth, carismático, embora solitário, divertido, pacato, dono de um bom gosto musical. Sempre me identifiquei com ele, tanto na escolha de personagens quanto no humor sarcástico e irônico. Só me falta encontrar minha Summer.

 

A série também se destacava pelas apresentações ao vivo de grandes bandas alternativas no clube local de Orange County. Já tocaram lá The Killers, The Walkmen, Modest Mouse e Death Cab for Cutie (banda predileta de Seth, junto, ironicamente, com o punk do The Clash). Ou seja, para quem gosta de rock alternativo, a série entrega muito.

 

O crime de amar mais do que se deve

Em um episódio, sua namorada, a bela Marissa – rosto e corpo de modelo, certinha, rica e, claro, apaixonada pelo delinquente juvenil – disse para ele: “Eu te amo”. Surpreso e sem saber o que responder, Ryan apenas disse: “Obrigado”. O que, naturalmente, arruinou todo o clima de romance.

 

A cena ilustra bem o desajuste de alguém que espera uma resposta romântica, mas recebe apenas um comentário protocolar.

 

E eu preciso fazer uma menção honrosa também às belas milfs da série: a mãe de Seth e a mãe de Marissa, Julie Cooper, que entrega uma atuação magnífica nessa cena, em menos de 40 segundos em que aparece, que compartilho abaixo:

 

https://youtu.be/TkeeNxBokyg?si=_L9rh1PtY_JVuDmO

 

O jogo da indiferença

Na vida real, percebo algo parecido: mulheres que talvez esperem algo de mim, enquanto eu não consigo pensar em nada melhor para responder além de um simples “obrigado”. E o mais impressionante é como todas as mulheres parecem iguais.

 

Sim, por eu não responder, algumas me enviam uma série de mensagens no WhatsApp que nem visualizo. Outras postam reels. E todas tentam jogar, talvez provocar ciúmes – o que só gera um efeito em mim: nenhum.

 

Uma postou uma foto “espiritual” de um cara completamente esdrúxulo, com aquele sinal de 🙏, mas logo depois me mandou uma sequência de mensagens que, claro, nem abri.

 

Uma amiga recente – a quem sou muito grato por suas, digamos, experimentações atuais – achou por bem mencionar seu caso com um dentista que não tem dinheiro para pagar motel, mas que ela já beijou e, pelo que entendi, está querendo dar. Não sei por que ela achou que isso me interessaria ou se era uma tentativa de me provocar ciúmes. Mas há algo de cômico na ideia de eu sentir ciúmes de um dentista.

 

E há também aquelas que negam qualquer interesse, mas me buscam. Os sinais são claros.

 

É engraçado: Nietzsche dizia que as mentiras mais comuns são as que contamos para nós mesmos, e fingir indiferença é só um joguinho infantil. E o mais curioso é que isso vem de gente madura, já na casa dos 30 e até beirando os 50.

 

No fim, mulher é tudo igual – todas querem ser amadas e se sentem dignas desse amor. Aliás, quanto mais feia, mais digna ela acredita ser.

 

A socióloga resolveu fugir de mim. Talvez esteja na solidão, ou então tentando evitar o vazio com qualquer um que apareça, imaginando que seja eu. Imagino a perda de tempo e as frustrações.

 

A arte de esquecer

A double N… Achei que sentiria mais falta do meu hábito de procurar sua foto diariamente no Instagram, mas, se ela quis me magoar, cometeu um erro. A cada dia me sinto mais distante dela, sua imagem se torna cada vez mais obliterada pela força do hábito, e tem dias em que percebo que nem pensei nela – quando antes ela roubava meu sossego diariamente.

 

É que estou tão bem comigo mesmo, tão feliz sozinho, que a companhia de alguém me parece indiferente. Se eu quisesse transar, bastaria responder ao WhatsApp, mas estou em outra fase. Não faço mais caridade.

 

Se a ideia era provocar ciúmes ou me fazer sentir falta, o efeito foi o contrário: esquecimento. Porque eu exerço a filosofia da diferença, não da comparação. As mulheres podem buscar em outro homem preencher a lacuna de mim, mas será sempre um fantasma. O Dave Le Dave real está aqui, intocável – e nunca estive tão bem sozinho.

 

Se a double N está se envolvendo com outro, sinto até pena dela por me comparar. No fim, isso só me favorece: eu brilho pelo contraste, pelo choque da realidade.

 

É por isso que não sinto ciúmes de ninguém. Podem dar para quem quiserem, sair com quem quiserem – no final, eu sou só um. Raro, necessário, exclusivo. Um unicórnio.

 

Sistema protegido contra imitações

O que eu faço, ninguém consegue imitar. Sistema protegido contra falsificação e cópias.

 

Porque deu muito trabalho ser eu mesmo – um trabalho de uma vida inteira: transformar-se em uma bela obra de arte.

 

Baudelaire sabia das coisas

Termino com versos de Baudelaire sobre o dandismo, sobre como basta a mim mesmo estar só:

 

Que é, pois, essa paixão que, transformada em doutrina, fez adeptos poderosos, essa instituição não escrita que formou uma casta tão altiva

 

É, antes de tudo, a necessidade ardente de se equipar, dentro dos limites exteriores das conveniências, de uma certa originalidade

 

É uma espécie de culto de si mesmo, que pode sobreviver à busca da felicidade a ser encontrada em outrem, na mulher, por exemplo; que pode sobreviver até mesmo a tudo aquilo que se chama de ilusão

 

É o prazer de surpreender e a satisfação orgulhosa de jamais se surpreender.”

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 02/03/2025
Alterado em 02/03/2025
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