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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

ESCREVER NÃO É DOM, É CRIATIVIDADE!


A Escrita: Criatividade ou Dom?

Escrever é uma atividade criativa, não um dom ou algo inato. Você escolhe algumas palavras em detrimento de outras. Escolhe um tema em vez de outro. Ou, às vezes, materializa algo novo onde antes não existia nada. É algo trabalhado, aprimorado, maturado com o tempo e o dia a dia, como um whisky escocês que vai se encorpando no barril, ou um vinho, ou ainda a carne que tempera para pegar mais sabor. Pensado, planejado e depois executado.

 

A Beleza da Simplicidade

A boa escrita não admite ornamentos supérfluos, nem superficialidades que a tornem ridícula—como se colocar uma gravata em uma roupa horrível conferisse elegância. O que torna a escrita bela é o seu conteúdo. Ela deve ser fluida e contínua como um rio. Ornamentos vazios são pedras que apenas obstruem o seu curso.

 

Linguagem Bela, Conteúdo Vazio

Nem todos conseguem unir uma linguagem bela a um conteúdo igualmente significativo. Uma linguagem bonita sem substância é tudo, menos boa literatura—é só um invólucro para mascarar a aridez do conteúdo. Dizem que a escrita é 99% transpiração e 1% inspiração, mas, quando a inspiração vem, ela escreve o texto sozinha.

 

O Corpo e a Rejeição à Superficialidade

Nosso corpo aprende a rejeitar o que faz mal ao organismo. Com os livros, os versos e os escritos, acontece o mesmo: há ideias que nos geram repulsa instintiva, que fazem a gente nem querer chegar perto.

 

A Exemplo de Barcinski

O melhor texto que já vi na imprensa brasileira é de André Barcinski. Ele não tem floreios, é direto, prende como um romance policial e flui como um rio. Não se perde em figuras de linguagem vazias nem em ornamentos supérfluos. E, o mais importante, une tudo isso a cultura, repertório e conhecimento. Porque palavras, por mais bonitas que sejam, não valem nada se dentro delas há carvão, e não ouro. Sem conteúdo, não há bom texto possível, só ornamento.

 

A Afinação com a Boa Literatura

E, dentro dessa nossa afinidade mútua, por conhecer o tipo de autor que ele gosta, sei que Barcinski passaria longe—e até sentiria constrangimento—diante dos textos de certos autores místicos e grandiloquentes. Embora ocultos pela própria sombra de irrelevância, atribuem a si mesmos o título de poetas e escritores. Bom, pelo menos autoconfiança não lhes falta.

 

O Constrangimento e a Comédia da Megalomania

Mas para mim e para Barcinski, lê-los é constrangedor. Nós, que estamos familiarizados com boa literatura, reconhecemos os nossos pares. Os iguais se entendem. E se ele se dispusesse a me ler, tenho certeza de que reconheceria meus méritos—e sentiria o mesmo constrangimento diante desses “escritores” de quem nosso corpo já aprendeu a manter distância. Há algo de cômico em sua megalomania esotérica.

 

A Impressão Digital do Escritor

Mas existe algo na escrita que funciona como uma impressão digital do escritor, do seu espírito? Algo que faz uma pessoa ler um texto e reconhecer o autor de imediato? Ora, isso é o que chamamos de estilo. Não é dom, é técnica, aprendizado, estudo. Não é inato. A escrita não é como a nossa caligrafia, embora a prática e o hábito de escrever possam nos tornar melhores—como um caderno de caligrafia aprimora a letra.

 

A Voz Única do Escritor

Mas quem consegue dar a si mesmo uma voz e um estilo tão próprios que o leitor reconhece sem precisar ver a assinatura? Esses são os raros.

 

O Estilo que Repulsa

E nem sempre isso é bom. Às vezes, reconheço de longe o estilo grandiloquente e vazio de um autor, e isso me faz manter distância—uma necessidade fisiológica que meu corpo adquiriu de só se aproximar do que é bom. Dos meus pares, dos meus iguais, dos meus irmãos, em letra, espírito, nobreza e raridade.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 02/03/2025
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