Este texto não é sobre mim, mas sobre uma amiga—uma princesinha em seu mundo fantástico, vivendo em um castelo de vidro, fã de fábulas e contos de fadas, sonhando em encontrar seu príncipe encantado. Mas só aparecem sapos, e ela, com sua anfiobia, se recusa a beijar a boca fria e repulsiva deles até que se transformem em príncipe. Afinal, a maioria dos sapos, depois de beijados, permanece sapo.
Enquanto o príncipe não aparece, ela vive na companhia de seus 14 gatos e 4 cachorros, reinando sozinha em seu palácio de vidro. Dizem que, neste Carnaval, fugiu da folia e se refugiou no ar das montanhas. Quem sabe o príncipe não venha a cavalo? Está aprendendo francês—talvez pelo passado aristocrático dessa nação—e quem sabe queira ser uma nova Princesa Diana.
É sabido que a companhia dos animais muitas vezes é melhor do que a das pessoas, e que eles são mais confiáveis. Mas é um símbolo de nossa era o fato de que mulheres e casais prefiram ser pais de pets e plantas a terem filhos. Isso reflete um pouco da descrença na humanidade e a dificuldade de encontrar alguém que valha a pena para criar um vínculo afetivo—alguém que tenha o mínimo, o básico.
Um homem que seja mais do que seu pênis, seu falo, seu egoísmo, seu machismo, sua idiotice, sua misoginia velada, sua camiseta suada e encardida, a barba mal feita, a meia puída, a cueca velha. Sua visão abominável nua, sua falta de romantismo e galhardia, sua barriga protuberante que atrapalha o sexo, sua negligência com a própria aparência, seu desinteresse pelo cultivo de si—estética, física e intelectualmente. Sua falta de cultura, seu vocabulário parco, sua inexperiência de vida, sua ausência de histórias para contar, sua falta de humor, seu português rudimentar, sua comunicação limitada a áudios.
Sim, hoje os pets são melhores companhias para muitas mulheres. Mas e o desejo sexual? Nada que um brinquedo erótico não resolva—um dildo, um pinto de borracha grande e grosso, de preferência preto. Os homens fazem sexo de forma tão automática e protocolar que, no fim, eles acabam sendo os companheiros mais satisfatórios. Lembro do filme Besteirol Americano, em que uma personagem batiza seu vibrador de “meu pequeno amigo”—ironicamente, seu “amigo” tinha mais de 20 cm. Com um amigo desses, uma mulher realmente não precisa de amante.
Mas eu nunca tive pets, nem cachorro nem gato. Tenho rinite alérgica e falta de cuidado para ter um cão. Até bichinho virtual eu deixava morrer. Só necessitaria de um cão se ele fosse antropomorfizado, fofo, escritor, galanteador e inteligente como o Snoopy, e não precisasse de ser cuidado. E ainda assim, ele garantiria a melhoria dos meus textos, apesar de que sempre sugeriria que eles começassem invariavelmente com "Era uma noite escura e tempestuosa!"
Mas, com todo respeito aos animais, eu ainda tenho fé e prefiro os seres humanos. Quero uma amante, claro, de carne e osso. Zoofilia é coisa do cinema marginal de São Paulo, homens da roça que querem perder a virgindade com cabrito e outros párias sociais.
Sim, minha amante deve ser humana. Aceito também divindades como Calipso e Afrodite. Minha limitação de idade e meu senso não são rigorosos; a partir dos 12 já acho bonito (você vê que a cada dia eu abaixo mais a idade limite. É que a beleza está florescendo cada vez mais cedo). A beleza vai até o infinito (mas normalmente até os 60, salvo raras exceções). Porém, minha regra de beleza não é a mesma jurídica, e eu respeito todas as leis e os limites éticos, mas que eu acho bonito, eu acho.