Deleuze, filósofo que, ao fazer crítica literária, destaca que, mais importante do que o conteúdo literal nas linhas de um livro, é o que se passa ENTRE elas—nos espaços subjetivos onde a obra encontra o leitor, criando novas interpretações e significados. Um comentário, portanto, deve ser uma síntese desse diálogo entre autor e leitor, transformando-se em algo novo. É isso que desejo e busco em um comentário.
Não espero um “parabéns”, fui eu quem escreveu, eu sei que o texto é foda—caso contrário, não teria publicado.
Tenho, em média, 33 leituras por texto. Mas, considerando que alguns ultrapassam muito essa média e outros ficam bem abaixo, estimo que, na prática, a média real seja de umas 20 leituras—algumas bem mais, outras bem menos. Curiosamente, os textos de que mais me orgulho, e talvez os que tenham me dado mais trabalho, são os de menor alcance. Mas como acredito que a escrita fala por si só, considero legal receber comentários, desde que atendam ao meu critério de qualidade. Caso contrário, não faço questão. De ser lido, sim—obviamente.
Tenho consciência de que a unanimidade é burra e que os textos mais lidos da semana não refletem, necessariamente, os melhores. O que aparece no topo são aqueles divulgados em redes sociais, impulsionados por panelinhas literárias ou inundados por comentários vazios.
Por isso, quando comento, não me concentro na popularidade, mas na contribuição que posso trazer ao texto do autor—valorizando seu trabalho e acrescentando algo significativo. Não desperdiço meu tempo, nem o do autor. Dessa forma, ao comentar, também faço literatura. E quem não sabe acolhê-los e recebê-los, ou tem mau gosto, ou inveja.
Não me atenho ao número de leituras ou comentários que a pessoa tem, mas à sua qualidade literária. No entanto, às vezes comento textos de autores que, apesar de desconhecidos até na própria plataforma, retribuem meus elogios de forma apática—como se fossem artistas consagrados, inalcançáveis, destinados apenas aos “escolhidos”. E então percebo que, por isso mesmo, têm menos de 10 leituras. Nesse sentido, foram bem-sucedidos.
Mas enaltecer um autor desconhecido que se faz de intocável, poeta e escritor, atribuindo a si mesmo o mais alto valor, sem que isso se reflita em reconhecimento ou qualidade, é um exemplo de como o poste mija no cachorro, sem receber de volta a mesma reciprocidade.
E falam que sou desumilde. Ora, então eu devo comentar um autor desconhecido, mas ele, intocável, não pode retribuir? Eu, que todos no recanto assíduos talvez já tenham se deparado com, mas o autor desconhecido que não se prova nem em repercussão nem em qualidade não sente a curiosidade ou a cortesia de retribuir? Claro que não comento esperando troca de likes, isso é ridículo. Mas um grau de cortesia faz parte do bom convívio nas redes; caso contrário, o poste mija no cachorro.
Vou citar um exemplo claro: a jovem encantadora Rayssa Styles, a claricinha do recanto. Com seu charme e franja francesa, eu a descobri, e sou eu quem a comento, por pura generosidade minha, enquanto os comentários na página dela são singelos e banais. Quem tiver curiosidade pode comprovar. Ora, jamais esperei nem quero outra contribuição a não ser incentivá-la. Mas se eu observar que ela interage e comenta com autores fracos em vez de fazer uma visita, nem que seja de cortesia, para mim, eu me sentiria muito despeitado. E assim o poste mija no cachorro.
Voltando ao Deleuze, ele comentava a obra de Nietzsche, Bergson, Kant e outros filósofos. E dessa forma, reinterpretava e não só os explicava, mas, ao mesmo tempo, fazia sua obra, seu pensamento e filosofia. E assim são meus comentários no RL.