Primeiro, vamos rebater a polêmica inócua que algum carioca mandrião, com seus pés descalços de areia, iniciou: é bolacha recheada, e biscoito é de polvilho. Ou, se preferir, um apelido carinhoso que remete à parte terminal do aparelho digestivo, como na música de Gabriel Penador, que insinua uma prática sexual que habita o imaginário de tantos homens.
Agora, ser a última bolacha do pacote é bem diferente de ser o último bombom da caixa, embora à primeira vista pareça a mesma coisa.
A última bolacha é algo raro, o item que vai saciar sua vontade por um doce diferente. Ela é única, inimitável, e se torna essencial, a salvação do pacote.
Já o último bombom, embora também seja o último, é, na verdade, o pior. Normalmente, é o de crocante, aquele que ninguém quer comer, que até pode estragar na embalagem. É como o último a ser escolhido no futebol, porque, bem… é o pior.
Então, qual você é ou quer ser? A bolacha valiosa, a última, ou o bombom malfadado, só porque é ruim?
A última bolacha, embora não seja essencialmente diferente das demais, é a mais valiosa justamente por ser rara. Sua superioridade está no fato de ser única, e isso a torna especial.
Eu prefiro, sem dúvidas, exercer a filosofia de enaltecer a minha diferença e singularidade. Por isso, fico longe dos últimos bombons.
Agora, observarei a caixa de bombom à distância, longe da minha presença, para não me contaminar, mas irei comparar os meus comentários em sua página com os de agora. Vou analisar como minha opinião era uma pressão criativa para que ela melhorasse, e comparar com os comentários sem a minha presença e as publicidades, para ver se eu realmente era o problema. Ou, quem sabe, se ela está na zona de conforto da mediocridade, cercada por seus pares. Mas, como a história se repete, já consigo prever o desfecho: a normalidade, a falta de incentivo, até que ela perca a vontade de escrever e vá diminuindo suas publicações até desaparecer por completo. A não ser que o simples fato de eu revelar que estou observando à distância a motive; será um bom laboratório.
Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Até para fazer um comentário mais elaborado e espirituoso, é preciso ter espírito, mostrar que leu, absorveu o conteúdo e trouxe uma síntese dialética com o autor, gerando algo novo em forma de comentário que contribua com o texto. Esse é o bom comentário. Diferente daqueles que não entenderam nada, mas querem ser lidos e conhecidos e deixam um “parabéns”. É o bombom de crocante tentando se fazer presente. Querem transformar o Recanto das Letras numa caixa de bombom composta só de bombom crocante, do que falta, do que sobra, do que apodrece: uma rede dos últimos homens, ou de homens ocos, do “ipsilons” do admirável mundo novo de Aldous Huxley. Mas enquanto eu estiver aqui, serei da resistência, e eles não passarão! Quem nasceu pra ser bombom crocante jamais será talento da Garoto ou um Lindt.