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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Já se ARREPENDEU de algo que ESCREVEU AQUI?

 


Capítulo 1: Acorda, Terráqueos!

 

Bom dia!

Sim, acordei agora! E não me julguem. Não foram vocês que passaram o dia inteiro ontem sob um calor de rachar em São Paulo — uns 40 graus — com uma placa pesada no pescoço anunciando “compro e vendo ouro”.

 

Às vezes, eu me resigno em dizer bom dia, porque nunca sabemos a hora exata em que uma pessoa vai ler nosso texto. Então, me contento em deixar apenas um: “Olá, terráqueos.”

 

Aliás, vocês já pararam para pensar na quantidade de pessoas que estão entrando na internet hoje pela primeira vez? E talvez, justamente na primeira visita, deem de cara com um texto meu. Imagino que deva ser a mesma experiência de um primeiro sexo anal… sem vaselina. Então, para essas almas novatas, deixo aqui meu salve: “Sejam bem-vindas à internet, pessoal!” Aqui vocês encontram esse tipo de texto que estão lendo agora, mas também muita coisa boa. Juro!

 

E Se Eu Me Arrependesse de Tudo?

E depois desse preâmbulo sarrístico, vamos à pergunta do dia:

 

Você já se arrependeu de algo que escreveu aqui, depois de publicado?

 

E talvez eu já me arrependa dessa introdução que fiz, mas quem nunca escreveu algo e depois se questionou?


Quem nunca mandou aquela mensagem alterada para o crush de madrugada, balbuciando um “apesar de tudo, ainda te abô, meu abor”? As palavras, uma vez ditas, não recuam no tempo. E têm o poder de machucar mais do que um golpe.

 

Deve ter sido pensando nisso que o webmaster do Recanto das Letras adicionou a opção de excluir textos.

 

No calor do momento, é fácil perder o controle, dizer ou escrever algo que, com um pouco mais de reflexão, jamais teria sido publicado.

 

Eu Fui Ao Limite e Caí em Contradição

Ontem mesmo escrevi uma série de textos inflamados, querendo denunciar algo e enaltecer minha diferença. Mas, no meio do caminho, caí em contradição. E em vitimismo.

 

Eu sou a favor das pautas sociais da esquerda, como o movimento woke, mas critico seus desdobramentos contraproducentes: o vitimismo, o ataque desmedido, a obsessão com uma linguagem politicamente correta que, muitas vezes, só revela mais ódio arraigado.

 

Racismo, Identidade e Como Me Tornei Invisível

E, ironicamente, ao evocar o argumento de que sou um preto e pobre que desafiou as circunstâncias, fiz igual. Ora, nem preto, nem pobre. Alguns negros, por sua posição social, acabam sendo “embranquecidos” — como Machado de Assis, O.J. Simpson, o pianista do filme Green Book. Comigo não foi diferente. O racismo subjetivo, vindo de pessoas físicas, nunca senti. Já o racismo estrutural e simbólico, esse sim, faz parte da minha realidade e eu o enfrento.

 

E, embora use o argumento de que sou da periferia, sempre tive acesso a bens culturais desde cedo: livros, revistas, discos — até importados. Internet, computador em 1997, um dos primeiros. Telefone. Meu pai era funcionário público bem remunerado. Sempre tivemos uma casa ampla, que, embora hoje adaptada e menor, ainda assim é nossa, mesmo estando na periferia, com um quintal para brincar e essas coisas, e não pagar aluguel em São Paulo é luxo.

 

Eu, o Privilégio e a Luta Que Ninguém Vê

Eu não sou bom exemplo. E se sofri as agruras da clínica de recuperação, foi porque escolhi ficar na versão mais barata, em vez da mais cara e tranquila, por me sentir mais à vontade. Foi escolha. Afinal, clínicas de reabilitação — mesmo as clandestinas — são caras, e a maioria dos dependentes nem tem a oportunidade de se tratar. Já as clínicas luxuosas, como a que o Casagrande frequentou, têm preços indecentes: quartos para duas pessoas custando até 20 mil por mês.

 

Trajetórias Privilegiadas: Quando o Sonho Não Condiz com a Realidade

Sempre tive convênio de saúde. Ou pelo trabalho ou sendo beneficiário. E mesmo hoje, não dispondo de saúde paga, eu trabalho na prefeitura e no SUS, e tenho acesso às melhores vagas e hospitais públicos. Faço atendimento no hospital especializado em narcóticos e álcool da USP, em um prédio opulento e suntuoso, que me dá todo o suporte, tudo graças ao SUS. Se tivesse que me internar hoje em dia, meu psiquiatra conseguiria uma vaga para mim lá, certamente. E, se eu tivesse que pagar por essa estrutura, o custo seria mais de 10 mil reais mensais, certamente. Quanto aos remédios, pego de graça. É como dizem: “quem distribui e não fica com a melhor parte é porque ou é burro ou não entende da arte.”

 

Moro em São Paulo, trabalhei em multinacional desde os 16 anos. Com 21, tive a oportunidade de ter uma empresa com sede na Avenida Paulista, graças às oportunidades de co-working — algo que só uma megametrópole como São Paulo oferece — e à demanda por arte e cultura, áreas em que sempre atuei e me eduquei. Uma trajetória de alguém privilegiado, muito distante de ser marginalizado. Então, meu discurso vitimista não se traduz na prática.

 

É claro que, como não sou burguês clássico, o fato de sempre ter priorizado a cultura na minha formação é algo meritório. Mas isso só foi possível pela facilidade de acesso a recursos que sempre tive desde a infância.

 

A Fuga do Faniquito: Perdi Tempo, Mas Aprendi

E, por último, atacar outros usuários da plataforma, como um faniquito, sem focar diretamente na minha produção, só me fez desperdiçar forças. O que escrevi ontem nem dá para chamar de conteúdo!

 

O Amor Que Me Faz Respirar

A pessoa que amo já se acostumou com meus rompantes. Já disse coisas terríveis para ela, e, ainda assim, ela continua por aí. Invisível como o ar, é verdade, mas ainda assim imprescindível para que eu respire e tenha vida. Ela soube me entender, relevar e só enxerga o que há de melhor em mim.

 

Pensamento Saudável: O Rio que Segue Fluindo

Minha maior capacidade sempre foi não remoer o passado, sem ressentimentos. O pensamento sadio deve ser como um rio fluido, enquanto os ressentimentos são pedras que obstruem o fluxo contínuo das águas.

 

A verdade no que eu digo é que algumas ações e palavras ferem de maneira difícil de cicatrizar. Voltar atrás é possível, eu perdoo, mas prefiro aprender e me afastar. O encantamento pode acabar. Eu quero mãos estendidas para mim por escolha, não por compaixão ou piedade.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 01/03/2025
Alterado em 01/03/2025
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