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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

MULHERES: O MITO DO NAMORADO ‘DIFERENTÃO‘

 

O “Interessante” Segundo Flavio Gomes

O jornalista Flavio Gomes, conhecido por seu petismo inveterado e seu jeito irreverente e divertido de se comunicar, é um grande fã e, possivelmente, o maior conhecedor de automobilismo do país. Além disso, tem um dos melhores textos da imprensa brasileira. Com sua ironia afiada, costuma zombar de colegas que descrevem um jogador de futebol como “interessante”.

 

Interessante como? Ele lê Nietzsche? Fala sobre Woody Allen?

 

Flavinho brinca com um estereótipo oposto ao do jogador de futebol, que geralmente é visto como um bárbaro. Quando alguém diz que um atleta é “interessante”, o que se quer destacar, na verdade, é seu diferencial dentro de campo. Mas o jornalista transporta essa ideia para o cotidiano, ironizando o fato de que, numa sociedade cada vez mais superficial, basta alguém ler um pouco de Nietzsche e assistir a alguns filmes de Woody Allen para ser visto como alguém fora do comum.

 

E, de fato, em um mundo onde os homens são, em sua maioria, banais, qualquer um que tenha o mínimo de cultura já se destaca.

 

O Diferentão de Hoje

Acho que, quando as mulheres procuram um namorado “diferentão”, miram em alguém, modestamente, como eu, mas acabam acertando um sujeito nascido na minha geração, cuja maior distinção intelectual é conhecer toda a lore e os personagens de Naruto, compartilhar memes idiotas de videogames e animes na internet, escutar heavy metal e ostentar uma barba com algumas tatuagens.

 

Se for de São Paulo, soma-se a isso um baseado ocasional e uma frequência moderada à barzinhos da Augusta—mas nada em excesso!

 

Esse já é o suprassumo para algumas. O homem ideal, aquele com quem pensam em casar e ter filhos.

 

E se ele tiver alargador? Nossa! Nem precisa saber escrever; basta mandar áudios no WhatsApp que ela já se estremece em zonas erógenas. Afinal, ele escuta heavy metal, mas também tem um lado sensível, gosta de Los Hermanos e Engenheiros do Hawaii, e até sabe uns versos de Leminski. Não de cor, claro—leu em alguma página de citações da UOL.

 

O Mito do Príncipe Alternativo

Esse é o estereótipo do diferentão dos anos 90. Um ótimo partido para quem sonha em casar e ter filhos, mesmo que ele já tenha passado dos 30 e ainda assista Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z com o mesmo fervor adolescente.

 

E eles pululam. “Nada em excesso” é seu lema, mas principalmente quando o assunto é conhecimento. Leram, no máximo, uns dez livros na vida, mas fazem questão de incluir A Arte da Guerra e Assim Falou Zaratustra—este último abandonado na metade porque não entenderam nada.

 

Ainda assim, são fãs de Nietzsche, a quem definem, na melhor das hipóteses, como “o rouba-brisa”.

 

O Namorado “Totalmente Awesome”

E as mulheres, incautas diante da escassez no mercado dos afetos, aceitam esse tipo de homem como se tivessem tirado a sorte grande na loteria: “Ah, meu boyfriend é awesome!” Afinal, ele já assistiu Clube da Luta, Pulp Fiction e O Poderoso Chefão—um cinéfilo inveterado! Mas tudo dublado, claro, porque as legendas passam muito rápido!

 

Há aquelas que se contentam até com o que nem diferentões são—homens que não são nada, nem belos, nem fortes, cuja única credencial masculina é o fato de terem um pinto. Caso contrário, mal daria para dizer que pertencem ao sexo masculino, tamanha é a ânsia delas por escapar da solidão.

 

O desespero de não ficarem sozinhas faz com que precisem de alguém—qualquer um—para compartilhar sua miséria.

 

O Catálogo do Amor Moderno

Essa dificuldade de viver sem um par revela um problema mais profundo: a incapacidade de conviver consigo mesma. Quem não suporta a própria companhia, como pode ser uma boa companhia para o outro?

 

É nessa miséria que as pessoas escolhem seus parceiros, como quem folheia um catálogo à la carte em aplicativos de relacionamento—analisando as fotos dos pratos (as imagens de perfil) e as descrições do cardápio (hobbies e biografia) até darem match.

 

O objetivo? Estabelecer um romance líquido, à la Bauman, que termina na fluidez dos líquidos corporais expelidos no orgasmo.

 

O Diferentão Perfeito

Se for com um diferentão, que ao menos seja bonito—um daqueles de barba bem feita, tatuagens estratégicas e um guarda-roupa composto por variações de camisetas de metal encardidas, desbotadas de tanto lavar, manchadas de suor.

 

Mas, no mínimo, sem barriga protuberante que atrapalhe na transa.

 

E se ele não souber escrever? Não tem problema! Sempre há a possibilidade de mandar áudio!

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 26/02/2025
Alterado em 26/02/2025
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