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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

PREFIRO SER BURRO DO QUE SEM GRAÇA

“Gosto muito”, como diria a Sociofóbica (gente, vocês estão lendo a Sociofóbica? Acordem para a vida!), da ideia de Ariano Suassuna de que o humor é uma forma de inteligência. Minhas raízes “intelectuais” vêm do humor. Antes de qualquer habilidade com a escrita ou com a retórica, fui criativo fazendo piadas, arrancando risadas da turma com ironia e sarcasmo. Eu sequer tinha o hábito da leitura, mas já tinha bom humor.

 

Há inúmeros comediantes inteligentes e engraçados: Woody Allen, o Monty Python, Marcelo Adnet, Chico Anysio, Roberto Bolaños, Jô Soares, Gregório Duvivier, o saudoso Fausto Fanti — a mente por trás de Hermes e Renato —, entre tantos outros. Para mim, arrancar uma risada dá um prazer quase orgástico, maior até do que provocar uma exclamação de excitação intelectual.

 

É claro que, com o passar dos anos, a leitura se torna inimiga do riso. Ela franze o cenho, contrai a testa, deixa a expressão sisuda pelo esforço da compreensão das letrinhas diminutas. Adquirimos rinite alérgica devido ao deleite bibliômano de nos cercarmos de livros, desaprendemos a leveza, ganhamos a presunção e a arrogância que o conhecimento traz, esse elitismo pedante que a cultura carrega. Mas é essencial aprender a rir de si mesmo, a fazer piada, a satirizar a sociedade. Machado de Assis enxergou no humor uma resposta ao absurdo da existência e à miséria humana. Essa é a minha tentativa também.

 

E quem conhece meus instintos sabe que sou um Robin Hood bem francês, cuja principal arma é o engenho, que não se leva muito a sério, que, acima de tudo, mesmo quando fala sério, faz piada e usa o humor. É claro que alguns temas exigem a liturgia que pedem. Mas burro sim, sem graça nunca.

 

Me dói mais ouvir que um texto não foi engraçado do que apontarem uma inconsistência em uma ideia. Afinal, ideias são abstrações; o humor, por outro lado, é prazer, é sentimento, é vida. A erupção do riso, a gargalhada, se assemelha ao orgasmo — que, em francês, significa “pequena morte”.

 

Lembro de um dia em que meu irmão foi surpreendido de súbito por um quadro genial de Hermes e Renato. Ele riu tanto e tão alto e forte que sua gargalhada sequer emitia som, deitou no chão, em êxtase, sem fôlego. Esqueceu-se de respirar e quase morreu ali mesmo, de tanto rir. E há algo de poeticamente absurdo na manchete imaginária: “Homem morre de tanto rir”. Que morte estúpida, trágica e bela ao mesmo tempo.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 26/02/2025
Alterado em 26/02/2025
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