Li um texto de um autor aqui do Recanto que se dá a si mesmo o epíteto de professor e que afirma que o ser humano é obra e produto divino, mas que a doença seria algo antinatural e, portanto, não poderia ter sido criada por Deus. E ele chega a argumentar que a doença não existe! Oi? Há algo mais natural do que a doença? Ela não provém da natureza, de fatores biológicos e disfunções orgânicas? Negacionismo da ciência, antivacina e agora até da própria existência da doença e da natureza — essa é nova! Esse exemplo apenas reforça o perigo de um pensamento dogmático e obscurantista.
Gilles Deleuze, filósofo proeminente do materialismo (e que certamente esse autor atacaria e criticaria), não fazia essa distinção entre corpo e alma, doença e divino. No entanto, o tal professor afirma que quem acredita na existência da doença é levado por uma ilusão que, por sua vez, origina o sofrimento. Então, segundo essa lógica, câncer, AVC, hipertensão e até mesmo a Covid (que eu estou enfrentando agora) seriam apenas frutos de um pensamento fraco e ilusório.
E o meu sobrinho, pobrezinho, com menos de quatro anos, que teve contato comigo no sábado, hoje acordou com febre e calafrios. Precisou tomar duas injeções. Tudo isso porque, segundo essa teoria absurda, o bichinho se deixou levar pela ilusão da doença, e por isso sofreu com as agulhadas? Tadinho… ele mal sabe pronunciar as palavras “ilusão” e “sofrimento” direito!
Isso me lembra Nietzsche e sua crítica à tendência humana de preencher lacunas no conhecimento com explicações imaginárias e fantasiosas. Em vez de buscarmos as verdadeiras causas dos fenômenos, criamos narrativas fictícias e religiosas para dar sentido ao que não entendemos. Mas o que esse “professor” faz não é apenas deslegitimar a ciência; ele também nega a profissão milenar dos descendentes de Asclépio, o deus da medicina.
Deleuze, em seu materialismo e em sua filosofia das “máquinas desejantes”, afirmaria que “a literatura é uma saúde”, apostando no poder revitalizador da arte na vida das pessoas. Mas textos obscurantistas como o desse “professor” conseguem exatamente o oposto.