Ministério da saúde adverte: o corpo doente não é capaz de praticar um pensamento saudável; essa ideia já se encontra desde Spinoza até Nietzsche. A matéria do pensamento é a matéria do corpo. Corpo e alma são indissociáveis. Só existe um materialismo estrito.
Só isso explica que, desde ontem à noite, com a minha constipação — que pode ser covid ou talvez dengue: febre, sudorese, dor no corpo e de garganta, cansaço e indisposição — eu, alguém que pratica atividade física diariamente, não tenha sido capaz de escrever uma linha sequer. Eu, que ontem para hoje estava planejando escrever um texto sobre como o capital cultural se transforma em moeda de troca para aquisição de outros tipos de capitais, como simbólicos e até financeiros, à luz de Pierre Bourdieu, e até um texto sobre religião, política e sexo, que, embora digam que são temas que não se discutem, eu, claro, justamente iria discutir e dar minha opinião a respeito sobre cada tópico.
Mas não fui capaz. E doente, fico um pouco mais chatinho, como se já não fosse, né, e a doença faz com que eu me lembre da pessoa que verdadeiramente amo e que gostaria de ter por perto nesse momento delicado. Não sei por que, mas a iminência da doença me faz desejar amorosamente a presença dela, talvez não só pela sua profissão, mas simplesmente pela veleidade de receber os cuidados e a diligência das mãos de quem se ama. Fico mais manhoso do que sou, mais infantil do que já sou. Nada mais coerente do que eu desejar a sua pediátrica presença.