O bom gosto é uma dádiva: dizem que o estilo não se ensina—ou se tem, ou não se tem. O mesmo vale para o gosto. Apreciar a boa literatura não é apenas uma questão de hábito, mas de sensibilidade; distinguir entre o sublime e o medíocre, entre a arte e a mera ornamentação. Assim é com a poesia, a música, o cinema—com a arte em geral.
Dizem também que as cartas de amor são ridículas e que não o seriam se não fossem cartas de amor. Mas há versos que transcendem a simples ridicularidade e mergulham no vazio, tornando-se banais, sem alma, sem força. Ovídio, por outro lado, soube falar de amor sem ser rídiculo, sem se perder no artifício barato—ele era poeta, e acima de tudo, tinha bom gosto.
Há quem envernize palavras para lhes dar um brilho falso, mas o que produzem é apenas um espetáculo burlesco: versos que não carregam peso, que não possuem alma, que não têm potência. São construções ocas, que nada comunicam, mas enganam os incautos—ou as incautas, mais propriamente!
Na roupa, na verdade, há uma comunicação silenciosa, uma expressão do espírito que diz muito sobre nós—sobre o asseio, a personalidade, a elegância, o estado de espírito, a confiança, a ousadia. As roupas que eu tenho não são difíceis de combinar, pois são todas sóbrias e belas por si mesmas; basta ser simples, sutil, e não exagerar. É uma questão de bom gosto, afinal.
Para a arte, aplico a mesma régua e critério, talvez superficial, que uso para a roupa. Cioran nos ensina que não há nada de errado em abraçar a miséria humana, que a arte, assim como a roupa, pode ser um meio de transcendê-la, de se superar, de encontrar beleza no que parece efêmero e frágil. A miséria da condição humana pode ser uma lente pela qual se vê a possibilidade de algo maior—uma arte que não nega a dor, mas a transforma e a ressignifica, sem se perder em versos vazios, desprovidos de alma, ainda que tente enganar troianos na furtividade das sombras.