“Quer pagar quanto?” Você deve se lembrar desse slogan das Casas Bahia. A remuneração do escritor diletante, que publica amadoramente seus textos, é o número de leituras—quiçá a transformação que ele provoca. Se, de alguma forma, através do meu discurso textual, eu fizer com que o mundo se torne mais parecido comigo, com a forma como enxergo a realidade, isso já é uma recompensa.
É a vontade de potência se manifestando—o desejo de ver parte de si em tudo o que existe, de incorporar-se às coisas. Aprendi com essa ideia de que não há ação desinteressada, nem mesmo aquelas revestidas de caridade ou altruísmo. Afinal, ao fazer o bem, alguém não se reconhece como uma pessoa boa? Em uma sociedade cristã como a nossa, existe algo mais recompensador do que isso?
Escrever sem ser lido é um solilóquio vazio, um exercício sem sentido. As palavras são vaidosas, gostam de exibir-se. Sua natureza é feminina: querem revelar sua beleza em público, não definhar em um caderno fechado, empoeirado, sem ninguém como espectador.
Thomas Mann já dizia que a beleza é uma forma de pensamento. Pensar bem é pensar belamente; ser belo é pensar bem. Da beleza, resulta agir bem—agir belamente. Escrever belamente, por sua vez, é um exercício de criatividade.
Mas a escrita, mesmo quando não é bela, ainda é um ato criativo. Criamos uma ideia em um espaço vazio, onde antes não existia nada. Ao redigir um texto, damos forma ao pensamento—e o pensamento é feito de palavras, de linguagem. Por isso, um sujeito de parco vocabulário e repertório dificilmente conseguirá articular uma boa ideia, uma ideia nova ou original. Afinal, a matéria-prima da criação é o pensamento, e o pensamento se constrói com palavras.
Mais rara ainda é a capacidade de organizar as palavras de modo único, original—de criar beleza através da linguagem. Isso, sim, é um ato de pura criatividade. É o ofício dos poetas, essa estirpe tão amada e, ao mesmo tempo, tão pouco remunerada, seja em dinheiro ou leituras—como já sugeria a ideia central deste texto.
Quanto vale uma ideia bonita?
Qual o valor da beleza da linguagem? Qual o preço do encantamento de um pensamento? Do fervor e da originalidade de uma ideia?
Sou extremamente suscetível à beleza. A beleza é feminina—não apenas a palavra, um substantivo feminino, mas também a essência do conceito. Talvez por isso eu goste tanto das mulheres e seja tão sensível ao que elas inspiram. E aquelas que unem a qualidade de serem belas à capacidade de produzir beleza com a linguagem, então… nem se fala.
Minha criptonita é a literatura—um fetiche intelectual, um fetiche em forma de palavra. Por isso gosto tanto de Clarice. O estilo de Clarice me seduz, me excita.
Se a beleza é feminina, para produzir o belo precisamos exercitar nosso lado feminino, nosso lado andrógino. Como disse Picasso, todo artista, para ser artista, deve ser ou pensar como uma mulher. E eu tenho um olhar feminino apurado—para a beleza, para a estética, para a moda, para o superficial, para o detalhe, para a roupa.
Mas não sou homossexual, tampouco um “homem-sexual”! Sou um homem que preza a sensualidade e o erotismo antes da sexualidade explícita, que sempre me pareceu um tanto vulgar. Daí resulta minha outra criptonita fetichista: o modelo de lingerie thong, a sensualidade e o erotismo que desperta — em mulheres, que fique claro!
Mulher pode usar cueca, mas homem usar underwear feminina? Para mim, caso de camisa de força e focinheira. Guardar a peça como recordação e memória, vá lá. Um amigo uma vez rasgou a calcinha de uma menina à força e ficou com ela de lembrança. Acho válido o prêmio pelo esforço físico, rs.
Mas perdi o fio da meada do texto? Ou não? O erótico não é belo? A fetichização da lingerie instigante e de Clarice não evocam o feminino e a beleza?
E, afinal, qual o valor da beleza? Qual o valor de um texto que se perde em digressões? Quantas leituras ele merece?
Quer Pagar Quanto Por Ele?