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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

QUER ME LARGAR? FODA-SE!

A Juventude e Seus Desafios

O filme Nós Que Nos Amávamos Tanto (C’eravamo Tanto Amati), de Ettore Scola, abre com uma cena marcante: um grupo de amigos mergulha em uma piscina após invadir uma casa. O instante, aparentemente leve e despreocupado, é um reflexo de uma juventude impulsiva, guiada pelo desejo de liberdade e pertencimento. Mas essa imagem logo se dissolve, e o filme recua no tempo para revelar as raízes dessa amizade e do amor que os une — e, aos poucos, os separa.

 

A narrativa se desenrola como um grande mosaico de afetos, onde as memórias individuais se entrelaçam com as transformações de uma Itália em reconstrução. Gianni, Antonio e Nicola compartilham não apenas uma amizade, mas um passado comum marcado pela luta antifascista, pelos sonhos de um mundo mais justo e pelas desilusões que a vida adulta impõe. Entre encontros e desencontros, Nós Que Nos Amávamos Tanto não se limita a contar uma história de amizade e amor, mas também expõe as frustrações de uma geração que, ao longo dos anos, se vê confrontada com a distância entre os ideais que um dia abraçou e as concessões que a realidade impõe.

 

A Rebeldia de Uma Mulher

Da mesma forma, retrocedo no tempo para relatar um caso ficcionalmente real — uma história que poderia ser inventada, mas que, infelizmente, se repete em diferentes rostos e circunstâncias.

 

Ela era uma mulher jovem, cheia de vida, mas presa em um casamento onde o amor havia sido substituído pelo controle. O marido, com sua voz carregada de posse, lhe lançou um aviso cruel: “Se me deixar, ninguém mais vai te querer.” A frase, impregnada de ameaça e desprezo, era uma sentença que tentava reduzi-la a nada, a um objeto sem valor fora daquela relação. Mas, em vez de se encolher diante da imposição, ela decidiu provocar. Vestiu uma lingerie preta — um conjunto novo, comprado para momentos de intimidade entre os dois — e gravou um vídeo curto, carregado de sensualidade, apenas para si mesma. Depois, num ímpeto de desafio, postou-o na internet.

 

O vídeo, de menos de um minuto, explodiu em visualizações. Em poucos minutos, já havia 30 mil acessos e 25 mil curtidas. Talvez as únicas 5 mil pessoas que não tenham deixado seu “like” tenham sido as namoradas que flagraram o vídeo no celular de seus namorados. Mas, para além das reações anônimas, houve uma que importava mais do que todas: a do marido. Quando viu a gravação, ele não apenas se enfureceu, mas a puniu da forma mais primitiva que conhecia — com um murro.

 

O Absurdo da Violência Contra Mulher

O mais brutal, porém, não foi apenas o golpe, mas a forma como ela o recebeu. Em vez de reagir, de reconhecer a violência pelo que era, ela a naturalizou. Como tantas outras mulheres, inverteu os papéis e se colocou no lugar de culpada. Afinal, não era isso que sempre lhe disseram? Que mulheres “direitas” não fazem esse tipo de coisa? Que a única resposta aceitável para sua transgressão era uma surra bem dada? Assim, diante do espelho, ao invés de ver o rosto marcado pela agressão, ela só enxergava o que a sociedade lhe ensinara: que merecia cada golpe.

 

O Que Realmente Importa?

Para mim, que acredito que uma mulher deve ser tratada com a delicadeza de uma pétala de rosa e analisada como a estrutura da bolha de sabão, para falar igual a Lygia Fagundes Telles, é impensável — absurdo — levantar a mão contra ela. Eu, que jamais bati ou bateria em uma mulher… vestida.

 

Se eu estivesse no lugar desse sujeito, diante do gesto provocador da mulher — que, no fundo, nada mais era do que uma resposta ao meu próprio desvalor, uma forma de reafirmar sua própria existência e desejo —, talvez a minha reação fosse outra. Se eu realmente gostasse dela, reconheceria o erro, a crueldade da frase que proferi para diminuí-la. E, em vez de me enfurecer, veria em seu ato um símbolo de ousadia, um traço de emancipação e poder feminino.

 

O Erro da Legitimização da Agressão

Mas ela, ao contrário, se fez vil. Legitimou o discurso da agressão ao naturalizá-lo, ao passar pano para o infrator e, pior, ao elevá-lo ao posto de “homem digno” e “pai de família”, como se um título pudesse redimir a violência. Pai de sua única filha, disse ela. Filha que, talvez, nem existiria se fosse por ele mesmo . Isso, claro, se essa história fosse verídica. Mas, como sabemos, certas ficções nada mais são do que espelhos do real.

 

Tchau e Benção, minha querida

Se eu não perdoasse, jamais recorreria à violência. Minha reação seria simples: dar as costas e seguir em frente. “Tchau e bênção”, como dizem, porque o comportamento dela diria mais sobre ela do que sobre mim. Ela que arque com as consequências de suas escolhas.

 

Se ela me trair, trair com quem? Em troca de quê? Por quê? Por um instante fugaz de prazer? Por orgulho? Vale mesmo a pena trocar algo verdadeiro por um momento efêmero? Por um amor de acaso em vez de um amor autêntico, raro, original—um amor como o meu, que eu tenho que acreditar ser valioso? Se ela me largar, paciência. Que vá. Se chovem pretendentes e elogios, o que realmente significam? São apenas vozes ocas, tão rasas quanto os assobios de pedreiros que nem sabem o que é um vocativo, que elogiam sem sequer entender o que dizem.

 

O Valor da Escolha e o Preço da Tradição

E entre esses 25 mil comentários, se houvesse apenas um que valesse ouro—um homem raro, um verdadeiro unicórnio—então talvez a troca fizesse sentido. Mas o que adianta cair para baixo? Trocar algo sólido por algo menor? Errar na escolha, cegar-se pelo impulso e acabar pior do que começou? Se a mulher trai por um vazio real, por uma falta que o homem ao seu lado não soube preencher, talvez faça sentido buscar o que lhe falta. Mas se está emocionalmente, fisicamente e sexualmente satisfeita, se é feliz e amada, então por que trair?

 

A não ser que essa noite valha por toda uma vida—uma exceção, um instante de verdade absoluta que supere tudo o que veio antes. Mas, quase sempre, o que acontece é o contrário. Algumas mulheres não traem por desejo, mas por orgulho, por ciúme, por vingança. E quando percebem, saem mais machucadas do que vingadas, mais vazias do que antes.

 

A Trilha do Amor e o Temor da Arrependimento

Mas, para mim, o pior não é trair. O pior é estar preso em um relacionamento que se tornou apenas um contrato, onde a felicidade é definida por acordos tácitos, pela convivência sem chama, pela dívida de gratidão e pela obrigação de criar filhos. E, no final, não sabem o que se ganhou ou se perdeu, O tempo passa rápido demais para se perder em arrependimentos. Como diz uma filósofa profunda e sábia: “Vivemos de pequenos momentos, tudo passa rápido demais para ter medo de arriscar, principalmente no amor. A única certeza é que a incerteza existe, nada é constante. Vale a pena dar-se uma chance de amar novamente, de curtir o instante, a vida, viver com emoção.”

 

O Amor não é Seguro

Quem disse essas palavras sabia que a verdadeira vida se encontra na intensidade do presente, no risco do amor e na ousadia de ser vulnerável Onde será que ela foi? Para qual caminho terá seguido, e como posso encontrá-la novamente?

 

E, por mais que nos digam o contrário, o que realmente vale a pena é viver um amor pleno, bem vivido, mesmo que efêmero, do que permitir que o tempo dilua um amor desperdiçado, que se apaga na rotina e na indiferença. Pois o amor não é um campo seguro, mas é justamente nele que encontramos a verdade de nossa existência.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 18/02/2025
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