Você, que não vive em Marte, já deve ter se deparado com o termo “nudes”, que se refere a imagens trocadas pela internet, por aplicativos de mensagens, de naturezas eróticas, nuas, sensuais ou até sexuais. É uma prática muito aderida nos tempos atuais, de amores líquidos, nos quais as pessoas se conhecem e se relacionam através da frieza dos teclados. Essa prática reflete o império da imagem em detrimento da linguagem. Porém, o que quero revelar neste texto, ou confessar, é que sem a linguagem não há nudes — ou não se recebe nudes. Ou ela é veículo e meio para se chegar nos nudes. Pelo menos no meu caso.
Nas minhas incursões pela rede, muito influenciado pelo domínio de Baco e Dionísio, através do poder afrodisíaco dos entorpecentes que aumentam muito a libido, aderi a essa prática em busca de prazeres efêmeros, hedonistas e solipsistas onanistas, que muitas vezes, na maioria das vezes, não saíam da rede para a vida real.
Por razões várias: falta de interesse, comodidade, distância física e geográfica, não querer gastar dinheiro, etc. Não é toda mulher, todo nude recebido, ou mensagem erótica — o famoso sexting — que vale a pena o esforço de encontrá-la na vida real.
Dizem que a cocaína é uma droga do mal, como se fosse algo maligno. Mas é um exemplo de como usamos causas imaginadas para explicar algo concreto, que foge do nosso entendimento. Às vezes, a explicação é mais simples e teratológica: ela é um estimulante potente, que libera dopamina e aumenta a libido, mas são efeitos químicos, físicos, nada a ver com o mundo espiritual.
Gosto da cena de Enter the Void, do Gaspar Noé, em que o jovem traficante, antes de morrer, tem uma experiência extracorpórea, que é a ideia central do filme. Em uma cena, ele está ficando com uma japonesa no banheiro e oferece uma pequena carreira de cocaína para ela, que cheira e imediatamente fica tão excitada que se vira de quatro e ele a come no banheiro da balada. E esse é o efeito mesmo.
Então, estimulado pelo efeito da droga, troquei nudes. Sim, digo “troquei” porque, segundo o cavalheirismo, se você recebe, tem que retribuir, não é mesmo? Mas nunca mostrei meu rosto, caro. Mas também nem precisa, convenhamos. A imagem soberba que eu mandava já expressava meu desejo por si só.
Era eloquente, um sinal claro de desejo. Porém, sinceramente, eram poucas as ocasiões em que a foto era inédita, digamos assim. Porém, a recíproca no meu caso não é a mesma, pois já recebi imagens que revelavam a garota ou mulher por inteira, toda sua identidade, por dentro e por fora, if you know what I mean…
A verdade é que, nessas incursões madrugais, para usar um termo de Paulo Miranda, acumulei um acervo de nudes digno de um museu do Louvre do sexo, de todas as etnias, biotipos e idades, mas sem exagero.
Acima da idade da minha mãe, é quase impossível ser sexy, embora existam exceções, e abaixo de 13 nunca aconteceu. 13, 14, 16. Porém, eu não sabia na hora, só depois. A rede era, teoricamente, só para maiores de idade.
Mas me arrependo? Sim, me arrependo de ter apagado! Porque, quando comecei a me “relacionar” com a pessoa que amo, a ter esperança, achei que não seria certo manter esse tipo de arquivo enquanto cultivava amor por ela. Então, excluí-me desse tipo de redes e apaguei todo o histórico de conversas e imagens. Mais de uma hora apagando tudo, hehe. E eu não guardava tudo como se fosse um diário das minhas aventuras; eu simplesmente não as apagava. Simples assim.
A de 13 anos me ofereceu, além da disposição de me encontrar pessoalmente, a irmã ainda mais jovem e imagens dela. Eu não aceitei, obviamente, nem uma coisa nem outra. Os limites éticos impõem barreiras até ao desejo.
Quanto às conversas picantes, o famoso sexting, eu sentia mais prazer quando uma mulher recatada, de repente, se soltava, por conta da minha linguagem e poder de convencimento, e falava coisas surpreendentes. Algumas delas, devotas de sua religião — evangélicas, que só usam saia, ou católicas, adaptadas à confissão e à penitência — imaginem a cara de estupefação do padre ao ouvir suas confissões e quantas Ave Marias ela teve que rezar.
Quanto às imagens, acho a nudez explícita um tanto exagerada. Algumas imagens sequer tinham erotismo; pareciam mais um exame ginecológico, e eu não sou médico. E a visão de uma bcta, embora seja linda e atraente, convenhamos, por si só não é convidativa.
Como vocês sabem, meu fetiche é outro, então, nos nudes, eu preferia ver o que os americanos chamam de “thong” ou “g-string” — algo que não entrega tudo de imediato, mas evidencia o corpo da mulher, a sensualidade, a promessa de felicidade e o prazer que se aproxima. Isso é muito mais sexy, erótico e menos vulgar.
Engraçado que eu apaguei as imagens por conta de amor, mas nudes e sexting nada têm a ver com amor; ao contrário, quanto mais distanciamento emocional, mais eu quero receber nudes ou falar umas besteiras. Pelo contrário, quando amo ou me importo com a pessoa, não ligo para esse tipo de coisa.
A pessoa que amo, claro, já imaginei ela nua; aliás, já imaginei muitas loucuras com ela, responsavelmente, claro, mas não tenho a mínima vontade ou questão de receber uma imagem dela nua ou mesmo num traje que eu goste (hmm, embora essa segunda opção deva ser pensada).
Eu gostaria de vê-la nua, sim, mas pessoalmente, face a face, e contemplar seu esplendor físico e sua beleza angelical. Porém, não por foto. Se for para receber foto dela, eu preferiria ver o seu rosto, vestida mesmo, no dia a dia, uma pose roubada, daquelas que tiram de nós distraídos.
Acho que o motivo pelo qual me doeu não ser aceito no seu Instagram foi não poder admirar a beleza dela através das fotos enquanto os outros podem.
No final, talvez o mais interessante não seja o que se mostra, mas o que se esconde. O jogo da sedução, o desejo despertado pelo mistério, o prazer de conquistar, convencer, fazer alguém ultrapassar suas próprias barreiras. Mas, quando há amor, parece que tudo isso perde o sentido.
O corpo que queremos ver não é aquele capturado por uma câmera, mas o que podemos tocar, sentir o calor, o cheiro, a respiração. O que se revela sem precisar ser pedido.
E talvez seja por isso que, mesmo depois de tantas imagens, o que mais dói é não poder ver a única que realmente importa.