“What’s in a name? That which we call a rose by any other name would smell as sweet.”
A rosa? Se chamada de outro nome, não teria o mesmo perfume? Shakespeare nos questiona sobre a importância de um nome. No entanto, se Giovanna tivesse apenas um “n” para mim, perderia toda a magia. É esse nome que eu chamo, que grito em um berro mudo, hiperbólico, que, ao mesmo tempo, não emite som, silencioso, mas eloquente como a retórica mais sofisticada dos sofistas gregos.
Em cada página lida
Em cada página em branco
Pedra, papel, sangue ou cinza
Escrevo teu nome…
Em cada sopro da aurora
No mar e em cada navio
Na montanha adormecida
Escrevo teu nome…
E ao poder de uma palavra,
Recomeço minha vida.
Nasci para conhecer-te,
E chamar-te: GIOVANNA!
No meu trabalho, uma mãe me contou que sua filha se chamava Giovanna. Não me aguentei e perguntei:
— Com dois “n”?
Ela confirmou.
— Sim.
— Nome bonito! — comentei. — Mas essas Giovannas com dois “n”, viu…
Ela riu e retrucou:
— O quê? São terríveis?
Com um sorriso orgulhoso, respondeu:
— A minha, graças a Deus, vai se formar em Educação Física na USP.
Assenti.
— Sim, elas são inteligentes… mas terríveis.
Depois, pensei em inglês:
— Nevertheless, they break our hearts into very small pieces.
Resumindo em português, conclui, internamente, num solilóquio intimo:
Elas deixam nosso coração quebrado em pequenos pedacinhos… mas não tem problema, esse é o local por onde a luz entra.
Ninguém cantou o amor em prosa e verso de forma tão profunda quanto Ovídio, o poeta romano. Figura doce e pacata, ele é um homem raro, gentil, cuja natureza evitava tumultos. Assim como eu, amou uma única mulher: a sua. Ele só fala de uma coisa: o amor. Sua mulher é o amor. Em A Arte de Amar, ele não ensina o sentimento, mas a habilidade, a técnica, a sedução. Ele associa o amor a um prazer lúdico, a um jogo, a uma brincadeira. Um libertino modelo, mas ao mesmo tempo um amante ideal em uma época machista. Na sua obra, ele dedica um espaço para ensinar à mulher como conquistar também, oferecendo seu reconhecimento social, não a tratando como um simples objeto no jogo, mas dando-lhe autonomia na sedução e iguais direitos ao amor e ao prazer, como qualquer homem.
Como ele não ama ninguém diretamente, amava todas ao mesmo tempo, e o seu sucesso reside no fato de confiar em si mesmo, acreditando piamente em suas palavras e amando cada mulher de forma exclusiva, com aquele arrebatamento como se fosse única, o único amor de sua vida, com dedicação e esmero. Em um capítulo de sua obra, o poema reconhece que, tão importante quanto conquistar, é manter o amor, fazer com que dure, pois ele é volúvel. Por isso, dedica-se a ensinar a como mantê-lo aos seus discípulos.
Grande poeta e sabedor do poder da linguagem, ele entende seu papel na conquista, e como as mulheres são suscetíveis a ela. Nunca abre mão delas, considerando a linguagem imprescindível na arte da conquista. Para a manutenção do amor, ele nos ensina a dedicação. Por isso, uma pessoa que não se faz presente, que não tem curiosidade de acompanhar nossos escritos, comentar, seguir nossos passos, pode chamar de tudo, menos amor.
Curioso: eu não fluo da presença de quem amo como muitos, mas tenho plena certeza de que sou amado, enquanto algumas pessoas desfrutam da presença de seus parceiros, que julgam amá-los, mas não demonstram a mesma dedicação da pessoa que me ama, mesmo estando ausente. A presença ausente dela é algo que quase posso sentir na pele, na alma e no corpo de forma indelével. As ondas se formam, arrebentam na areia da praia, mas não apagam nossas memórias, nosso amor, tudo que vivemos e estaremos por viver!
Mas, pela sua ausência e por não poder fluir do objeto do amor, a quem escrevo o nome sem abrir mão da grafia exata, com dois ‘n’, vivo como o poeta Ovídio: e a única pessoa que amo é a minha: o amor. Infelizmente, não é exclusivo dela, e tenho certeza de que tenho vocação para ser fiel senão a ela. Porém, estando ausente, amo a todas da mesma forma que Ovídio, buscando nelas, talvez, o amor que obteria com a pessoa amada. Mas sei que o prazer, a satisfação do sexo, do gozo e do orgasmo, é muito maior com a pessoa que se ama de verdade. E a pessoa que eu mais queria fazer gozar e gozar junto é a pessoa que nasci para escrever seu nome, com a grafia exata, com os dois ‘n’, porque assim como David com ‘d’ mudo no final, é mais chique. Até nisso combinamos: nascemos um para completar o outro.