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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

 

O AMOR AOS 14 ANOS

 

O Período Mais Feliz da Minha Vida

Antes de compartilhar a segunda parte do texto que escrevi aos 14 anos, vocês foram apresentados ao personagem Bio, cujo nome verdadeiro era Steven. Ao lembrar dele, me recordei de que ele foi meu parceiro no período que, acredito, tenha sido o mais feliz da minha vida — o mais inocente, o que mais me permiti amar, o que mais fui confiante e ousado, e que também me rendeu muitas conquistas. Esse resgate me encheu de nostalgia, então quero compartilhar algumas histórias. 

 

Romance Musical e o Futebol

Vocês conhecem o livro Alta Fidelidade, de Nick Hornby? Um clássico do romance musical, nele o protagonista relembra seus momentos amorosos sempre relacionando-os a listas musicais — os melhores álbuns, discos e músicas. Hornby tem uma memória incrível e escreveu dois dos livros que mais gosto: Alta Fidelidade, um dos melhores romances sobre música, e Febre de Bola, que fala sobre futebol. Ele era um torcedor fanático do Arsenal e resgata, com detalhes impressionantes, suas recordações como torcedor.

 

Esses dois livros são verdadeiras declarações de amor a dois dos meus hobbies favoritos: a música e o futebol. Alta Fidelidade até ganhou uma adaptação para o cinema, muito competente, com John Cusack.

 

Para conferir um toque de nostalgia ao texto, em cada capítulo vou compartilhar uma música que me remeta à época ou ao sentimento daquele momento. E, please, ouçam as músicas que deu mais trabalho colocar os links que escrever os textos!


Club Foot - Kasabian

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O Paraíso das Férias: O Recreio nas Férias

Havia um evento de férias chamado Recreio nas Férias. Era incrível porque unia a melhor coisa que a escola tinha: o convívio social, a possibilidade de paquera, ver belas garotas, sem a obrigação de ter que estudar. Ou seja, era o paraíso. O melhor que a escola tinha a oferecer. E ainda havia passeios, excursões para o Sesc, cinema, incrível, tudo gratuito. A possibilidade de ficar com alguém era infinita, pois havia a viagem no ônibus e ainda o encontro no passeio. Muitas garotas aderiram ao Recreio nas Férias, muitas das quais eram conhecidas minhas, de rua ou que haviam estudado comigo.

 

Os Parceiros de Rolê e as Aventuras de Bio

Bio era um bom parceiro de rolê. De fato, a gente se destacava — não pela beleza, ele parecia o Severino do Cara Cracha do Zorra Total, e eu era um pouco mais bonito, mas nada demais. Mas a gente fazia a maior zoeira e era, de fato, o mais popular. Aí, tinha uma garota muito bonita na época, que até hoje é uma das mais bonita com quem já fiquei (dando spoiler e adiantando a história), mas ela namorava na época. Mas eu coloquei na minha cabeça que tinha que ficar com ela de qualquer jeito. Eu secava na cara dura. Olhava mesmo. E o Recreio nas Férias durava uma ou duas semanas, não lembro, então meu tempo era limitadíssimo. Eu era muito folgado na época. Talvez eu tenha brigado mais nessa época do que tenha beijado na boca. Porém, eu sei que arrumei briga com o namorado dela. Depois que ela começou a ficar com um alemão de óculos nerd, que a gente apelidou de Harry Potter, comecei a fazer bullying com ele.

 

Aí, um amigo dele veio tirar satisfação, briguei com ele, bati nele, e o irmão dele, bem mais velho, veio tirar satisfação comigo e bateu em mim. Mas eu não arreguei, apanhei com dignidade. Eu nunca revelei meu apelido aqui no bairro, né? Era Pulguinha, ou Pulga. De fato, as pessoas não sabiam meu nome, mas todas sabiam quem era o lendário Pulguinha. Eu pichava na lousa ou nos muros imitando o Bart Simpson. Ele pichava El Barto, eu pichava El Pulguito’s na lousa ou nos muros, e uma vez, na escola, em uma paródia da Tienda del Chavo do icônico episódio da barraca de refrescos do Chaves, eu criei a Tienda del Pulguitos. Sim, estudar que é bom, nada! Mas até hoje, se você vier no meu bairro e perguntar onde mora o Pulguinha, eles saberão te responder.

 

Briga, violência e a Conquista de Bruna

Eu acho engraçado que tenho amigos que nunca brigaram na vida. Eu já briguei em todos os lugares possíveis: no intervalo da escola, com todo mundo olhando; na sala de aula; na rua, com melhores amigos, inimigos; dentro de casa; até dentro do cinema do CEU e fora do CEU. Eu era um arruaceiro mirim. Mas tem que ter um pouco de testosterona na veia, né? Hoje em dia, eu não tenho condições de brigar com ninguém, né?

 

Voltando ao assunto, a Bruna sabia que eu era louco para ficar com ela. Eu, especialmente, ficava mais bonito de toca no frio. Ela me viu sem a toca e disse que realmente eu ficava mais bonito de toca. Preconceito com meu cabelo crespo? E ela, para me fazer ciúmes, ficou com o coordenador, que era mais velho que todo mundo, uns 16 anos, alto, mais um negrinho safado, daqueles que a gente chama de “neguinho”. Foi óbvio para me provocar ciúmes, e ela queria ficar com alguém moreninho, alguém, com todo respeito, muito mais feio que eu. Mas mulher é fogo, era eu que ela queria. Ela gostava de mim, eu gostava dela, e ela fez isso para me provocar.

 

Nos dois ficaram no cinema do CEU, e só de lembrar deles se beijando — ela com a cabeça para baixo na poltrona, tipo o Homem-Aranha, e ele com a cabeça reta — só de me lembrar, me sobe um ódio súbito, que eu deveria ter uma cadeira e quebrado na cabeça dele, mesmo ele sendo maior. Eu era insano, viu. Aí, depois de uns dias, a gente conversou na escada, ficamos a sós e finalmente nos pegamos. Bonito, viu! Ela era bonita, mas não sei se compensou tanto a confusão não, hein. Hoje, converto isso nesse texto.

 

Hysteric - Yeah Yeah Yeahs - Ouça:

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Fire - Kasabian - Ouça:

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As Conquistas e a Leveza da Juventude

Mas, na verdade, a mais difícil foi só ela. A verdade é que todas as garotas bonitas passaram pelo meu crivo. Até a minha própria monitora de 16 anos, e eu devia ter 13 ou 14 na época.

 

Seventeen - Ladytron - Ouça:

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Tem a Daniele, que é o estereótipo da menina bonita: olhos azuis e loira, por quem o Bio era apaixonado. E aí tem a minha amiga Vanessa, que era o oposto de mim. Ela era bonita, mas era CDF, quietinha, nem sei como ela aceitou frequentar o Recreio nas Férias. Essa minha amiga, então, deu de perguntar pra todas as meninas: “Ah, o David quer ficar com você, você não quer ficar com o David não?”. Não sei qual era o objetivo, se era me constranger ou algo assim. Aí meu amigo Bio, sagazmente, disse pra ela: “Eu acho que quem quer ficar com ele é você.” Ela se ruborizou e fez um silêncio que a entregou totalmente. E eu peguei ela, que era mó gata. Mas uma dessas meninas era a Daniele, que ela perguntou, e depois que eu fiquei com a Vanessa, a Daniele se retirou, e eu fiquei com ela também.

 

Detalhe: anos depois, quando eu ia trabalhar e pegava o trenzão, mesmo tendo uma empresa, ela saia no mesmo horário com um carrão. Os maldosos diriam que ela foi promovida por dar pro chefe, o que era preconceituoso, porque ela sempre foi inteligente.

 

To Binge - Gorillaz - Ouça:

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A Impossibilidade de Perder a Rota

Eu nunca quis dirigir ou tive curiosidade sobre isso. E pra quem me conhece, sabe que minha capacidade de localização espacial é equivalente à de uma pessoa com autismo, e não quero que isso soe de forma negativa, pois tenho todo respeito por eles. Ainda dentro do contexto do Recreio nas Férias, a gente estava em algum Sesc por aí. Umas meninas me pararam dizendo que eu era uma gracinha, algumas com aquele jeitinho de “negronas” sem muita noção, mas entre elas, tinha uma bonitinha. Aí, me separei dos meus amigos e fiquei lá com elas. E para me reencontrar com o grupo no ônibus, para ir embora? Tiveram que anunciar no alto-falante do parque.

 

Island in the Sun - Weezer - Ouça:

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A Confusão de uma Juventude Intensa

Por último, você sabe que, no filme O Homem que Amava as Mulheres (1977), de François Truffaut, o protagonista, interpretado por Charles Denner, descreve suas memórias de conquistas amorosas, incluindo uma cena em que ele encontra uma menina de uns 8 anos chorando. Ele lhe pergunta: “Por que você está chorando? Se eu tivesse um vestido bonito como o seu, não choraria.” E, de imediato, a menina para de chorar. Isso ilustra um entendimento sobre o sexo feminino e o poder do elogio. Quando se despedem, ele pergunta: “Que idade você gostaria de ter, se pudesse escolher?” E ela responde que não gostava de ser criança, desejando ter 18 anos. Essa cena foi incluída no filme para explorar o poder do olhar masculino e a complexidade da relação entre os gêneros.

 

Pelo mesmo motivo talvez eu inclua, no mesmo Recreio nas Férias (toda vez que vou escrever a palavra “recreio”, fico pensando em escrever “recanto das férias” rs), a vez em que defendi uma menina da mesma idade do filme de Truffaut, uns 9, 10 anos, de uns garotos que estavam incomodando ela. Depois disso, ela não desgrudou mais de mim e me falou algo que eu não acreditei que pudesse sair de alguém tão jovem. Aí, só brinquei, dizendo que, quando ela crescesse, ficaria muito bonita — o que com certeza aconteceu, e ela ficou feliz. E depois disso, tentei evitá-la.

 

I’m on Fire - Bruce Springsteen - Ouça:

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DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 09/02/2025
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