Acabei de chegar em casa. Tomado pela euforia e excitação, comecei a escrever este texto ainda no trem, durante o trajeto de volta.
Eu tenho uma cantada meio batida que uso desde sempre e costuma dar certo. Quando estou falando a sós com uma garota ou mulher, digo que a impressão final de um dia, como ele acaba, é o que permanece em nossa cabeça. Seu dia pode ter sido terrível, mas se acabar bem, com um momento prazeroso, sua impressão final sobre aquele dia será boa. A última impressão, nesse caso, é a que fica, contrariando o ditado. E após eu falar esse preâmbulo, pergunto para minha pretendente: "E aí, qual impressão você quer ter desse dia comigo, boa ou ruim? Como a gente faz para acabar bem?" E eu garanto que, após eu falar isso, meu dia acaba sendo bom.
Hoje foi a prova de que essa minha tese tem fundamento. Meu dia estava sendo um terror até as 6:30, e quem aparece lá para pegar seus agendamentos? A moça do menage, a chubby do rosto bonito. Para meu encantamento, ela estava mais linda do que nunca; tinha claramente feito o cabelo, passado escova ou sei lá, esqueci de perguntar, só elogiei, nem deu tempo, rs. Ela tinha reforçado as luzes, as unhas bem feitas, estava bem vestida e cheirosa. Ah, eu sou muito detalhista. Não sei se todo homem é assim, mas a beleza mora nos detalhes. E eu não tenho veleidade de me achar. Mas saber que uma mulher se produziu toda só para me ver, só para possivelmente sair comigo, é algo especial. Desde nossa aventura, eu não entrei em contato com ela, nem tenho o telefone dela, porque achei que se eu fosse o principal, eu seria uma espécie de talarico do meu amigo. Mas como hoje ela foi especialmente para me ver e sabia que ele não estaria lá, é totalmente diferente.
Aí eu fiz meu trabalho, estava dando a hora de eu fechar, e eu quase queria cometer a imprudência de chamá-la na sala e ficar com ela lá, mas o juízo me recompos. Eu ofereci café, que ela prontamente aceitou. Só que eu não achei as últimas cápsulas. A gente estava flertando muito, já falando umas besteiras um para o outro, aí apareceu um médico empata-foda bem na hora e ficou discutindo um caso de psiquiatria comigo por cerca de 30 minutos. Ela teve que sair com uma expressão de desapontamento e tristeza de dar dó, como alguém que se produziu toda à toa. Ainda tentou entrar na conversa com o médico, mas não teve jeito e acabou indo embora.
Esse médico acha que eu sou o maior gênio da raça humana, porque eu disse para ele que não podemos contar com o acaso ou a sorte, que como diz Elis Regina, "eu dou o tiro, quem mata é Deus". Aí ele compartilhou comigo como os médicos psiquiatras de pronto-socorro são fracos. Eu falei para ele que fui atendido por um que era um beócio, que dava para ver o olhar parvo da ignorância dele e que precisou consultar o chefe dele sobre meu caso. Ele disse que o médico deve ter sido receoso por saber que eu trabalho na UBS e tal. Mas o caso é mais grave e eu não podia falar.
Então o cara foi embora e eu, desesperado, perdi a oportunidade de sair com aquela mulher que, para mim, naquele momento, parecia a mulher mais bonita que vi na vida. O corpo dela é cheinho, é verdade, mas nunca vi um corpo tão esculpido e perfeito, e ela é linda de rosto e simpática. Uma dica que eu dou para você, mulher, que não é muito bonita nem inteligente: é como o anúncio da Jequiti: não existe mulher feia, existe mulher que não usa Jequiti. Ou, parafraseando para fazer mais sentido: não existe mulher feia, existe mulher mal arrumada. Então, se produza! Se for sair com alguém, esteja mais bonita do que nunca. Brilhe, mostre sua beleza de mulher, mas, principalmente, seja simpática e espirituosa. E essa garota não é uma gênia, mas ela é simpática, sabe conversar, é uma companhia agradável. Eu poderia casar com ela e ser feliz pelo resto da vida; seríamos felizes pela personalidade dela, que combina com meu jeito calmo, e dificilmente brigaríamos.
Minhas inimigas vão falar que estou assim pela euforia e porque hoje eu recebi um “pussylock” (não irei traduzir esse termo chulo). Mas a verdade é que saí de lá puto com o doutor e já estava indo para casa quando o carro dela estava estacionado na porta da UBS e ela me ofereceu uma carona. Sim, uma carona direto para a casa dela. E lá eu fiquei. E poderia ficar muito mais, se eu não quisesse dormir fora de casa. Ela me convidou para passar a noite com ela, mas eu disse que não fui para a academia hoje por causa da consulta e que queria ir amanhã de manhã, e que isso bagunçaria minha rotina, que teríamos outras sextas para nos ver.
O menage foi bom, mas no sexo a dois eu me sinto muito mais à vontade. É muito melhor, sem a visão abominável de outro homem nu. Cara, estou numa euforia tão grande que às vezes os caras fazem besteira confundindo isso com amor. Adorei a noite.
Ela concordou em me dar uma carona até a estação. Tive que explicar meu histórico de dependência para justificar que eu não tinha um puto no bolso, já que meu cartão estava com a minha mãe. Também usei isso como argumento para não passar a noite com ela, evitando dar motivos para minha mãe se preocupar. Ela já questionou a hora em que cheguei em casa, e eu menti, dizendo que meu amigo J. me chamou para um churrasco na casa dele. Agora, pensando bem, eu poderia ter dito que dormiria lá, né?
Mas a verdade é que eu não queria passar a noite inteira fora de casa. Apesar da companhia agradável, eu já estava cansado e comprometido com minha recuperação. Não quero dar preocupações para minha mãe, ainda mais hoje, justamente no dia em que voltei ao meu psiquiatra especializado em narcóticos. Ela recebeu a notícia da minha recuperação super bem, ao contrário do médico do posto de saúde, um neófito incompetente. Em compensação, o psiquiatra era ótimo — jovem, bonito, elegante, mas com aliança no dedo (viu, garotas?). Isso só mostra que capacidade ou má formação não têm nada a ver com idade; existem bons e maus profissionais, competentes e incompetentes, inteligentes e burros em qualquer área.
Meus amigos, consegui a proeza de sair com uma mulher incrível sem gastar um puto e ainda jantei na casa dela. Ou seja, comi duas ou mais vezes, se é que me entendem…
Ela entendeu minha situação e histórico e compartilhou sua experiência com maconha. Conversamos sobre casamento, e ela perguntou que conselho ela poderia dar a um rapaz ingênuo e doce como eu. Ela disse: “Não case? Ou vá, case e se lasque, mas escolha bem.” Adorei o conselho, mas enquanto estávamos juntos, mostrei que não sou tão ingênuo assim!
Agora as partes do dias que foram ruins. Primeiro, a parte mais modesta: uma velha foi falar mal da mulher que atende de manhã, dizendo que ninguém merece ela, que ela faz lanche no horário de serviço, como se fosse pecado um funcionário comer. Comer para quê, né, gente? E às 11 horas ela já está indo embora. Aí eu falei para ela, só para informação, que essa senhora, por acaso, é minha mãe e que ela acorda às 4:30 para trabalhar, que trabalha há mais de 30 anos e que pessoas como ela perdem a consulta que marcam por preguiça de acordar cedo ou porque é muito longe. Aí ela ficou toda sem graça, mas falou que eu era educado e que preferia vir à tarde. Eu atendi com respeito. Mas quer me ver bravo? É falar mal da minha mãe! Isso me tira do sério.
E agora eu quero falar da parte pior ainda, do falso moralismo. Eu fui usar o banheiro feminino público porque o banheiro masculino estava interditado e o dos funcionários estava sendo usado. Eu estava atendendo à necessidade fisiológica e levo papel higiênico de casa, porque sou um lorde. Então, o fato de eu estar com um rolo na mão, constrangedoramente, revelava minhas intenções. Aí eu tinha duas moças em frente esperando. Eu olhei no banheiro para ver se não havia ninguém; como não havia, entrei. Detalhe que no banheiro há dois banheiros que podem ser fechados, garantindo um sigilo, digamos assim, para quem entra inesperadamente. Mas eis que uma moça falou que esse banheiro é feminino. Aí eu respondi que eu sei, não tem ninguém, eu já olhei. E, brincando, falei que precisava atender à necessidade fisiológica, que eu era funcionário e que o nosso banheiro estava ocupado e aquele interditado. Mas não é que a mulher não entendeu e quis dar uma carteirada, dizendo que era do conselho gestor e que minha atitude estava errada? Se você quer me ver nervoso, é alguém querer se colocar por cima com o discurso de "você sabe com quem está falando". Eu sou calmo, mas como todo calmo, não me queira ver nervoso. Me invadiu um ódio súbito daquela mulher. Eu só queria usar a porra de um banheiro que estava com a luz apagada, que ninguém estava usando, que era uma necessidade fisiológica. Aí ela quis dar um sermão moralista, dizendo que poderia entrar mulher e criança na hora em que eu tinha meu banheiro. Aí eu fiquei mais nervoso ainda. Quando evocam falso moralismo e ignorância. Mas ainda me controlei, falando que era uma questão "urgente", de necessidade fisiológica e de bom senso. Mas ela quis discutir. Aí eu falei que frequentava aquele posto desde que era criança e pedi para ela me dar licença. Usei o banheiro e, quando voltei, coloquei-a no devido lugar, porque ouvi ela falando para os outros pacientes: "Está certo isso? Vai ver que o certo está errado.” Aí eu saí puto, já falando que é por causa de falsas moralistas como elas que se preocupam com problemas banais como esse que a saúde está escanteada e que, como conselheira gestora, ela devia se preocupar com questões importantes, como a falta de vagas e médicos. E por causa de falsas moralistas como elas, há violência contra mulheres. A ignorante interpretou que eu estava ameaçando-a de agredi-la. Não entendeu que, por causa do discurso de falso moralismo, escondido por um simples fato de eu usar um banheiro, oculta problemas graves de agressão contra mulher, assédio sexual e afins. E com isso ela deveria se preocupar. Mas no final, minha eloquência a calou. Mesmo eu bravo, ela gaguejou e tirou uma foto minha de frente para o banheiro, sem ter argumento.
Bom, esse foi o lado do relato. Mas eu sou um intelectual; eu tenho que embasar meu argumento.
A ética se refere àquilo que poderia ser diferente do que foi. Por exemplo, o excelente professor Clóvis de Barros Filho dá o exemplo de como ele foi acionado na escola porque seu filho vomitou na sala de aula, respondendo a um estado fisiológico do seu corpo. Ora, a escolha de vomitar ou não não é uma escolha ética, porque não poderia ser diferente do que foi. Assim como atender a uma necessidade fisiológica de usar o banheiro. Esse é um princípio básico da ética. Querer moralizar o vômito do filho do Clóvis ou a minha ida ao banheiro é ignorância, um desconhecimento do que é ética. Por isso, fiz bem em defini-la como falsa moralista.
E alguém mais acha que eu fiz mal em usar o banheiro feminino? Mas argumente com embasamento, igual ao que eu trago.
Por exemplo, se eu sou pai de uma criança menina e estou sozinho com ela no banheiro, vou deixar a menina usar o banheiro feminino sozinha? Eu não posso esperar que ninguém esteja usando para acompanhar minha filha no banheiro? Ou homens não podem entrar em banheiro feminino? Que babaquice é essa? É ou não é um discurso idiota de falso moralismo? Eu, o que eu queria fazer no banheiro feminino, assediar ou ver mulher nua? Eu que nunca vi uma na vida, né? Mas quis o destino que a noite sorrisse para mim e que o dia acabasse bem, e eu tivesse uma mulher deliciosa com quem eu poderia me casar, só para mim! E eu aproveitei cada instante. E, como minha cantada, eu quero deixar esses momentos ruins de lado, que já esqueci, para dizer que minha noite foi maravilhosa e que eu estava precisando de uma noite dessas com uma companhia agradável e simpática. Como eu sempre falo, eu miro no amor, mas encontro o prazer. Mas diz a sabedoria popular: enquanto a pessoa certa não aparece, vai a errada mesmo. E o dia foi MA-GA-VI-LHO-SO, mesmo depois de agora ver que recebi um WhatsApp dela dizendo: “Obrigada pela noite maravilhosa, bb”.