Ontem escrevi um texto pesado e hoje o mais bonitinho, que versa sobre um assunto universal que todo mundo sente, sentiu ou deseja sentir, mas, principalmente, viver.
“Amor”. Palavra demasiadamente rara nos dias de hoje. Poucos são os capazes de dizer que realmente o conheceram. Eu já o conheci? Será?
No meu texto, se vocês querem um hit, eu abordei dois videoclipes que mostram o amor de forma diferente, mas que podem encontrar semelhanças. Um é a versão erótica de um amor na puberdade de descobertas, os instintos se conhecendo e querendo se libertar; a descoberta da sensualidade e da intimidade de um casal de jovens. O clipe, que é da música "Lovemotion", é extremamente polêmico e delicado, dirigido por Gaspar Noé, um cineasta francês conhecido por suas obras provocativas e estilizadas, como "Irreversible" e "Enter the Void".
Esse mesmo diretor relatou que viu sensualidade e erotização no clipe "Elastic Heart", da cantora Sia, a qual me levou a observar mais detidamente. Eu me emocionei, pois vi minha representação de amor cinegrafada, mas não percebi os menores resquícios de erotização ou sensualidade, embora o clipe verse sobre desejos, instintos e amor.
É uma análise e interpretação meio sui generis que eu farei, relacionando o videoclipe da Sia mais ao lado do amor romântico e sentimental. Aliás, o nome da música é "Elastic Heart", então acho que é possível chegar a essa conclusão. A interpretação mais simples é que o clipe é autobiográfico e mostra a relação de conflito da própria cantora com seu lado pueril e inocente, e o lado instintivo, animalesco, e o conflito, a luta de amor entre os dois lados. Esse "pega-pega" ou "esconde-esconde" entre o lado inocente e primitivo pode habitar uma só pessoa. No entanto, interpretarei da minha forma, que me trouxe tanta identificação com meu caso de amor que cheguei a me comover a ponto de lágrimas.
Nela, a talentosa jovem interpretada por Maddie Ziegler, uma dançarina e atriz australiana, é uma criança de collant sujo, que está presa em uma jaula, com o homem que contrasta em aparência com ela, Shia LaBeouf, um ator e músico americano conhecido por seus papéis em "Transformers" e "Honey Boy". O homem representa uma espécie de homo erectus. A jovem parece representar a inocência, a pureza, o que há de mais doce e amor pueril: amor, paixão, alma gêmea. Já o homo erectus é o oposto, representa a irracionalidade, os impulsos, os desejos eróticos que entram em conflito buscando o amor.
Na coreografia, os dois ensaiam um embate, uma luta que mostra a inteligência de afetos dos dois se entenderem, mas que, ao mesmo tempo, permanecem em conflito. Contudo, algo os prende e os liga inexoravelmente um ao outro. A coreografia foi desenvolvida por Ryan Heffington, um renomado coreógrafo e dançarino que já trabalhou com artistas como FKA Twigs e Katy Perry.
Os momentos da jovem são arredios, selvagens e agressivos, mas ora carinhosos. E do homo erectus, embora transpareça rudeza, mostra ao mesmo tempo carinho e ternura com o lado inocente, demonstrando um desejo intenso de entendimento e de busca pelo amor. A relação entre os dois é ambígua. Em alguns momentos, eles lutam ferozmente, e em outros, demonstram uma necessidade de se entenderem. A dança possivelmente reflete a transição entre a infância e a maturidade, a inocência e a experiência, ou mesmo a sanidade e a loucura. A dança expressiva, coreografada por Ryan Heffington, ilustra um relacionamento tenso que pode simbolizar traumas, lutas emocionais e a dificuldade de escapar de padrões destrutivos. A gaiola simboliza a prisão emocional e psicológica. Ambos estão presos dentro dela, o que pode representar um ciclo de dor, trauma ou vício, ou mesmo dependência emocional e afetiva.
Em certo momento, Maddie consegue sair, mas Shia não consegue segui-la, sugerindo que a parte inocente consegue se libertar, enquanto a parte mais danificada fica presa. E em um dos momentos mais ternos, a inocência ou o lado puro sente remorso de ter abandonado seu amor e, por livre e espontânea vontade, decide voltar. Esse é o momento de apaziguamento e paz, o momento mais terno do clipe, o equilíbrio do encontro das almas gêmeas que parecem se juntar perfeitamente. Mas então parece que a jovem se dá conta de que não pode viver em uma bolha, uma gaiola, com seu amor ideal, porque ele ainda está preso na sua animalidade e no seu comportamento destrutivo, representado pela jaula. Assim, como ela ainda é inocente e pode sair da jaula, decide ser livre e viver no mundo real, longe da jaula. Mas o homem-selvagem não quer soltá-la, não está preparado para abandoná-la, seu lado mais puro, sua alma gêmea, o que lhe completa, e por isso segura a garota contra a jaula, impedindo-a de ir embora.
E eu me identifico com o clipe? Mas aí é o papel de quem ama soltar a pessoa, deixar que ela viva longe de mim, sua alma gêmea, para ser livre? Mas será que ela está preparada para lidar com o mundo lá fora, longe da jaula segura, do nosso amor? Lembre-se de que ela ainda é uma criança, e a sujeira das roupas dos dois mostra um lado ambíguo, uma necessidade de ajuda muda para limpar-se, lavar-se totalmente. Um sem o outro, ambos estão sujos, mas no aprisionamento da jaula eles não podem viver.
Mas aí é que entra a interpretação pessoal e onde me distancio do homo erectus. Em vez de usar minha força para prender a garota contra sua vontade, eu usaria meu instinto, minha força, meu amor, minha vontade de estar com ela, para arrebentar as grades da jaula, para que possamos viver juntos sem o aprisionamento do passado, no mundo real, um completando o outro.
E aí, concordam com a minha análise? Esse encontro com a inocência e o amor é algo que procuro, para além dos meus desejos instintivos. Deve ser por isso que a beleza colegial me chama a atenção, por me remeter à ideia de pureza, florescência, amor inocente, as descobertas prazerosas, bons momentos da vida. Mas não podemos ficar presos no passado, porque ele nos aprisiona, como a gaiola do clipe. A consciência não pode retroceder os acontecimentos e voltar para trás. O pensamento sadio deve seguir em frente como o rio, e o passado mal digerido é como pedras no caminho que obstruem e interrompem sua circulação livre.
Não obstante, ao entrar na internet e ver as fotos de uma jovem que também tem conta aqui no recanto, que eu conheço para além do anonimato, a sua beleza no auge da sua florescência me chamou muita atenção. Suas fotos com a família eram compatíveis com sua aparência e personalidade, e o prazer que as imagens refletiam em um momento de alegria, como o ato de tomar um sorvete. Num momento, eu decidi viver aquilo, que esse tipo de vida idílico e bucólico é algo que sempre busquei, compartilhando com alguém que eu ame verdadeiramente.
Meu amigo J. dá aula para alguns do ensino médio e talvez mais jovens. Como ele aparenta ser até mais jovem do que eu e é um rapaz bonito, é nítido como as alunas gostam dele. É comum que alunas adquiram um amor platônico pela figura do professor. O J. me mostrou fotos de garotas em fase de puberdade, todas sorrindo perto dele, como quem quer mostrar que tem um professor "gatinho". Elas vêm de colégios ricos, todas bonitas, dá para perceber como serão atraentes futuramente, cabelo bem cuidado, a pele. Incrível como a condição social se dá para perceber até pelo cuidado da pele e pela armação dos óculos. Meu amigo J. toma muito cuidado para saber lidar com isso, apesar de receber o convite de algumas na rede social, sempre respeitando a distância e liturgia do seu cargo. Como falei no meu último texto, evocando o mito do anel de Giges, ele sabe quais são os limites éticos de faixa etária e relações entre aluno e professor. Mas ele já me confessou que, quando uma aluna fez mais de 19 anos, ele saiu com ela, e também no curso técnico, onde são maiores, com quem já saiu. Mas eu imagino que a tentação é grande, meus amigos. Ser homem também não é fácil.
Nietzsche, talvez o maior filósofo de todos os tempos, exerce enorme influência no meu pensamento, e sou grato a ele. Mas ele também afirma que se retribui mal ao mestre, tornando-se sempre seu discípulo. Quando ele falava sobre o que o homem deve buscar em uma mulher, em uma companheira, enfatizava o aspecto da conversa: que boa parte de um relacionamento é baseada em conversa e troca de experiências. Então, ao me relacionar com alguém, devo me perguntar: eu gostaria de conversar com essa mulher o resto da minha vida?
Eu mesmo não veria sentido em um relacionamento se a pessoa não tivesse real interesse em mim, no que tenho a dizer. Mas, com todo respeito a Nietzsche, o relacionamento não é só conversa. Uma mulher e um relacionamento vão muito além disso.
Nietzsche entendia muito de pensamento, mas pouco de mulher. Na verdade, ele teve muito poucas aventuras ditirâmbicas e dionisíacas, sexuais, em sua vida. E as que teve, foi pagando. Ele contraiu sífilis, que o levou à loucura em um bordel. Eu, como leitor, vivi muito mais experiências afetivas, aventuras do que ele e conheço muito melhor o sexo feminino. Prefiro me identificar com a frase de Sócrates, que disse que tudo que ele aprendeu sobre amor foi com as mulheres. E assim também sou eu.
Pensadores que entendiam muito de mulher, sedução e erotização pululam. Ovídio é o mestre da arte do elogio com elegância e da galhardia, a quem me considero seu discípulo direto. Rousseau, através do humanismo e moralismo que prega em sua biografia, o condena; praticamente toda a sua vida foi sustentada por mulheres. George Bataille soube revelar os sentimentos eróticos e os desejos da mulher envolta da transgressão e do prazer, embora eu não goste muito desse tipo de literatura. Algumas mulheres sentem atração por essa forma submissa de relação diante do homem, pela ideia de dominação e na exploração de prazeres proibidos. Bataille conseguiu ilustrar isso sem descambar para a vulgaridade, com elegância, mas esse tipo de literatura não me atrai. Essa forma de lidar com o desejo da mulher é diferente da que eu exerço. Eu gosto de ter a ideia de propiciar prazer, mas, para mim, é fundamental o desejo e os limites da minha parceira, em um acordo mútuo e consensual, sem o qual eu acho que não pode haver prazer. Havendo esse consentimento, tudo é permitido. A única coisa que pode ser roubada inocentemente é um beijo. Afora isso, é condenável.