Baseado em um artigo muito interessante que li aqui no recanto, cujo autor simplesmente esqueci, as informações relevantes ficaram retidas na minha memória, como acontece com todo artigo informativo. Eu já escrevi em um artigo se alguém já usou o RL para flertar com alguém: Alguém já flertou com você no Recanto das Letras? O autor reflete que, pela dopamina gerada no processo da conquista, o flerte pode se tornar um vício, mas, depois que a conquista se consome, tende a pender o interesse.
Essa atitude, que pode parecer, a princípio, uma forma de mostrar autoconfiança, pode envolver, na verdade, a necessidade de validação, a dificuldade de envolvimento afetivo ou compromisso maiores, além da busca por uma adrenalina constante. Eu mesmo sou adepto do galhardear, do elogio, mas eles são sinceros, sem segundas intenções aparentemente, mas se a pessoa der mole…
Prefiro me demorar em um comentário sobre alguém que vale a pena, sobre uma característica que realmente me chamou a atenção, do que necessariamente ser um “serial flerter.”
O autor chama o flerte de diversão, uma palavra vulgar que eu não utilizaria para descrever uma prática, desde que a troca e a abordagem sejam feitas com galhardia e de forma respeitosa, ainda com o intuito de seduzir. Diversão é um jogo, e flerte não é um jogo; amor não é jogo, nem é prêmio, como refletiu Clarice. Mas não nego que o processo de flerte, de elogiar, de flertar em si, gera prazer.
Contudo, não posso ignorar o argumento de que esse padrão de comportamento oculta padrões emocionais. Por exemplo, ao longo de meus 32 anos de existência, eu só amei verdadeiramente duas garotas/mulheres, sendo que uma tenho até dúvidas se não era mais um amor de colegial do que amor, paixão, de alma gêmea. Mas se estou solteiro até hoje, é por opção. Sim, opção dos outros, e não minha própria, rs. Eu miro no amor, mas atinjo apenas o alvo do prazer efêmero e fugaz. Não sei se sou eu que fujo dele ou ele que faz questão de fugir de mim.
Eu só exerço o flerte e elogio nas redes sociais, onde posso me expressar naturalmente ou no cotidiano de forma orgânica. Não tenho coragem de abordar uma desconhecida do nada que me chamou a atenção e começar a conversar. Só houve uma exceção.
Quando fiz uma viagem com meus amigos Japa e aquele mesmo amigo em que passei mal em uma festa, desrespeitei a mãe com quem fiz as pazes. Viramos amigos e ela achou minha voz sedutora depois disso. Como estávamos em viagem e não queríamos perder a oportunidade de somar ao cenário paradisíaco de Maceió prazeres sensuais, tínhamos que ter coragem e abordar as garotas e mulheres. Tomei alguns foras, até uma moça que falou que eu podia pegar o que quisesse, achando que eu iria roubá-la, rs. Uma patricinha do caramba, mas me rendeu duas conquistas.
Vou começar com a que foi a mais “fácil”, da qual tenho o contato até hoje. O Japa e meu amigo E. faziam mauy thai na academia e eram fortes, com barrigas tanquinhas, enquanto eu era magricelo. Em um ambiente praiano, onde nem dá para se vestir bem, só de regata e sem camisa, eu não poderia esperar chamar atenção pela minha aparência ou porte físico, a não ser pela linguagem. No pacote do CVC, incluímos um quarto para três pessoas. Meu amigo E., que sempre foi mais desenvolvido, falavam que ele era um paquerador nato. Ficou com uma mulher e ficamos só eu e o Japa no rolê. Aí nos deparamos com um barzinho de praia com duas loirinhas: uma mais magra e a outra, digamos, mais gostosa. A mais magra me chamou atenção porque tinha o rosto mais bonito. O Japa chegou na gostosa.
Chegamos na cara dura, sentamos na mesa delas, compartilhamos mais uma dose de bebida até que elas foram ao banheiro juntas. E quando a mulher vai ao banheiro, nunca é simplesmente uma ida ao banheiro, por uma necessidade fisiológica, mas sim para conversar, para traçar um plano. Eis que, quando elas voltaram, as duas trocaram de cadeira: a gostosa sentou na minha frente e a bonita na do Japa. Já tínhamos trocado telefones. A sorte é que o Japa e eu estávamos sozinhos e o E. não estava no apartamento, então ele levou a bonita para lá e eu fui até onde estava hospedada a gostosa, que estava apenas com a amiga. Essa foi a conquista easy da viagem.
A outra foi com uma dupla de chilenas. E vocês sabem que nós estávamos em três. Vocês conhecem o filme "Jules e Jim: Uma Mulher para Dois", mas duas mulheres para três, é possível? Então, quando começamos a conversar com elas, os três, como não falávamos espanhol, mas os três falavam inglês e elas também, conversamos só na língua do tio Sam. Interação cosmopolita: um japonês, dois morenos brasileiros, um de olho verde, uma morena com corpo escultural e uma loirinha do Chile que falava castelhano, conversando em inglês.
A morena era ex-jogadora de vôlei da seleção chilena, então você imagina o corpo e a altura dela. E a loira era sexóloga. Desanimado pela minha desvantagem física e de aparência diante dos dois, eu tentei ficar meio de escanteio, já prevendo que teria que voltar para o hotel sozinho. E eu não tenho percepção espacial de localização, nem sei se seria capaz. Mas então, de repente, meu amigo E., que já tinha conquistado a loirinha sexóloga, disse para o Japa: "Você está descartado, agora vem você". Inacreditavelmente, ela gostou mais de uma beleza tipicamente brasileira, um moreno igual a mim, e eu tinha que conquistá-la em uma língua que nem é a minha e que até hoje não falo direito.
Mas, no final, deu bom para mim e para o E. Ele disse que ficou com a sexóloga na areia da praia mesmo e que valeu muito a pena, aprendendo uns truques. Eu fui para o hotel das duas com a jogadora de vôlei, que tinha um dos corpos mais incríveis e esculturais que contrastavam com o meu, em estatura, linda, e ela gemia e falava obscenidades ora em inglês, ora em castelhano ou portunhol. Mas na linguagem do amor, é uma só e ecumênica. Incrível.
Eu sei que ninguém gosta de ler essas minhas confissões e eu desagrado a todos. Mas agrado a mim mesmo. Como diz Machado de Assis, contar a vida é contar ela toda, os bons e os maus acontecimentos. Esse foi bom.
Mas, veja, eu só fiquei com duas mulheres em uma semana de viagem. E no carnaval. Mas Maceió não é um lugar bom para carnaval, não tem blocos nem nada, é para quem procura exatamente fugir da folia. Ah, e como o mundo é pequeno, no outro dia encontramos as duas chilenas na sorveteria e a gente tinha fumado muito maconha, que corajosamente escondemos e levamos de São Paulo no avião. Os olhos de todo mundo estavam meio vermelhos, mas mais o do E., por ter olhos verdes e claros. Aí a sexóloga reparou e exclamou espantada: "Hey, look, your eyes are reddish!", e, pela brisa da maconha, caímos numa gargalhada orgástica quase.
Mas o tema é flerte. É que, depois da viagem, voltei imbuído com espírito de coragem um páthos de confiança e comecei a abordar desconhecidas na rua mesmo. Uma dessas foi uma mulher que descobri ser casada e que deixou de buscar os filhos na escola para sair comigo. No caminho, ela já me falou obscenidades que não esqueço até hoje. Foi dela que tirei a ideia de que, em quatro paredes, tudo é permitido, desde que eu não machuque o outro e que o outro não me machuque, e que meu prazer é onde termina o do outro.
Para minha sorte, o prazer dela parecia não reconhecer limites e, assim como Dostoiévski afirmou, se Deus não existisse, tudo era permitido; para ela, também! Foi bem nesse processo que eu estava abrindo a empresa. Ela perguntava se queria que ela tirasse a aliança quando saíssemos, ao que eu respondia que não me importava. Mas depois, o compromisso fez com que eu interrompesse o contato e ela ficou me ligando por um bom tempo. Meus sócios viam que eu não atendia o telefone e falavam: "Não vai atender suas nega?", ironicamente. Depois, ela esqueceu. Apesar de morarmos próximos e às vezes eu a encontrar, ela me olha constrangida.
E eu nem usava substâncias na época, só eventualmente fumava um baseado. Mas hoje eu não faço mais isso, sou bem tímido, mas já perdi boas oportunidades. Só quando fica muito na cara, e eu trabalho atendendo o público, oportunidades são várias.
Mas mulheres são discretas ao revelar intenções ocultas. Por exemplo, quando no vagão do trem ou do metrô há visivelmente espaço de sobra e a mulher faz questão de encostar em você. Assédio ou importunação sexual se aplica à mulher também? E olhares, a linguagem corporal do amor, como ensinam Adam e Barbara, como passar a mão no cabelo, olhar de esgueira, tocar regiões que inconscientemente são meio erógenas, como pescoço ou pernas, fazer movimentos sugestivos, de vai e vem, com o anel, alisar objetos pontiagudos ou com aparência fálica. São sinais não muito claros que você vai aprendendo a ler e interpretar com o tempo.
Em suma, o flerte é uma dança delicada entre a sedução e a vulnerabilidade, onde as intenções e os desejos se entrelaçam em um jogo sutil. Essa prática, que pode trazer prazer e satisfação, também revela camadas mais profundas de nossas emoções e anseios. Ao refletirmos sobre nossas experiências, percebemos que cada interação é uma oportunidade de autoconhecimento e de entendimento das relações humanas. O flerte, quando exercido com respeito e autenticidade, pode ser um meio de explorar não apenas a conexão com o outro, mas também a nossa própria identidade e desejos. Mas não é um jogo nem diversão, assim como o amor.