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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

A ESTÉTICA DO CORPO E DO PRAZER

Fazendo academia nesses dias, e como sou observador, como todo escritor diletante, reparo como algumas pessoas treinam desenfreadamente sem preocupação com a estética do corpo. Irão argumentar que o padrão de beleza é uma construção social e que a Vênus de Willendorf já foi considerada um ideal de beleza. Mas isso foi no período Paleolítico. Ao que me lembro, a Vênus de Milo, de Praxíteles, também o foi.

 

Para os gregos antigos, grandes admiradores da beleza, o belo estava relacionado a proporções harmônicas que agradam o olhar, ou melhor, os sentidos do observador. Tem a ver com a simetria. Mas alguns frequentadores da academia treinam sem se preocupar com as proporções e acabam se tornando um monte de massa quase amorfa, ainda que musculosos. Muitos têm as pernas finas, o que destoa completamente do resto do corpo.

 

Eu, particularmente, se fosse mulher, não sentiria tesão algum em um fisiculturista; até me causaria medo, como se fosse uma espécie de freak show. Mas confesso que, de maneira heterossexual, observo que há corpos esculturais charmosos, com músculos bem torneados e proporcionais.

 

No meu caso, tenho um biotipo mais esbelto, porém, com a idade, percebo uma tendência ao acúmulo de gordura na barriga, o que para mim é esteticamente uma lástima. Não acharia bonito se ficasse muito musculoso. Meu objetivo na academia é encontrar uma simetria: aumentar um pouco os ombros, o peito e os membros inferiores, para ajudar na impressão de redução do abdômen e da cintura. No todo, esteticamente, mesmo sem chamar atenção, fica bonito, principalmente com a roupa certa. E garanto para vocês que estou sempre trajado com elegância, sem exagero.

 

Essa é uma preocupação que tenho também: ter um corpo que se ajuste bem às roupas que uso. Isso significa que não posso ter braços ou ombros muito largos. Para evitar que pensem que sou gay e falo só de homem, já mencionei em um texto como não gosto de mulher “gostosa”! Refiro-me àquelas com exagero de músculos, ao ponto de o corpo se masculinizar.

 

Os estilos panicats ou dançarinas do Faustão, que já foram o modelo de mulher desejável, também não me atraem. Para mim, parecem muito artificiais, tudo durinho no lugar. Ah, não! Mulher tem que ter imperfeições. Gosto do que os americanos chamam de regular girl, garotas comuns, com glúteos normais, até meio flácidos, mas que proporcionam uma sensação tátil agradável com a linha pélvica, se é que me entende.

 

Chubby também é um tipo que me atrai. E mulheres esbeltas, ou tiny, como eu, também acho bonito, porque se igualam a mim. Mas, como apreciador da harmonia, da simetria e da beleza, o rosto ainda me chama muito mais atenção do que o corpo.

 

Voltando ao meu caso, hoje fui à reunião semanal do trabalho e, como foi à tarde, percebi que as aulas já retornaram. Noto como minha aparência e meu modo de vestir despertam mais atenção das colegiais do que das mulheres mais maduras. Talvez, por inexperiência, elas não saibam disfarçar o olhar e eu acabo percebendo. Minha cara de bom moço e elegância devem destoar dos garotos de moletom da idade delas.

 

E é aí que reside o perigo – para elas, é claro. Gostaria da ajuda da minha amiga Flora, especialista em leis, para saber se é proibido atender ao desejo florescente de uma colegial. Rs… Brincadeira! Falo assim, mas não tenho coragem, não. Apesar de que não posso ser hipócrita a ponto de dizer que algumas me chamam a atenção. Acho bonito, sim. Não só de rosto, mas também a beleza do corpo no auge da florescência. Abaixo disso, acho que já é perversão.

 

E também dos homossexuais. Se você nunca recebeu uma cantada ou despertou o olhar de um gay, é porque, de fato, você é muito zoado. Gays são como mulheres, mas com desejo sexual e libido de homem. Ou seja, são descarados e não disfarçam – pior que pedreiro. Mas eu levo numa boa.

 

Agora, voltando à alteridade…

 

Ontem fui treinar à tarde porque trabalhei de manhã, em exceção, pois tinha uma consulta com o otorrino. Uma ótima médica, por sinal, que me atendeu super bem. E, digamos, se enquadra no meu critério de beleza. Por isso, até fiz questão de elogiar a unha dela e comentar que combinava com a armação dos óculos. Ela agradeceu muito. Se o fato de me oferecer um atestado de um dia só por uma consulta matinal teve a ver com o elogio, eu não sei. Mas recusei, ok?

 

Voltando ao treino e à alteridade, o treinador da academia era um puto de um gostoso e de um gato. É preciso reconhecer. Desses fortes, simétricos, musculosos, de regata, tanquinho, tudo no lugar, barba bem feita. Sinceramente, se eu fosse mulher, seria alguém a quem eu gostaria de dar.

 

Quando falei que ia interromper o treino pela metade, por cansaço, ele me olhou com desaprovação. Tudo bem, ele é gostoso, pode comer todas as alunas da academia, mas não é preciso exercitar só o corpo. O cérebro é ainda mais importante, porque o interesse das mulheres é capturado pela conversa, pelo que você tem a dizer, seu repertório e conteúdo.

 

Ou então ele tem que ser uma máquina do sexo, porque, quando o prazer acabar, o que resta?

 

Ovídio, no seu livro A Arte de Amar, cita Ulisses. Ele não era necessariamente bonito ou atraente de corpo, mas sabia falar bem, era vivido e eloquente. Isso fez com que sua mulher, Penélope, fosse apaixonada perdidamente por ele. E também garantiu o amor de uma deusa, Calipso, que ficou tão encantada por ele que lhe prometeu vida eterna e juventude. Mas Ulisses, como bom amante, resolveu voltar para Ítaca, seu lugar, seu pertencimento.

 

A moral que fica é que a estética do corpo desperta prazer, mas ele é fugaz e momentâneo. O que realmente prende é a estética do cérebro: exercitá-lo para capturar a essência e a imaginação de quem gosta de você. Assim, você terá delas não só o corpo, mas também a mente – ou a alma, se preferir.

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 29/01/2025
Alterado em 29/01/2025
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