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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Existe INTELECTUAL que não gosta de ler?

Confessarei um fato que, para mim, como amante das leituras e dos livros, é um tanto constrangedor: desde o dia 26, quando comecei minha abstinência de substâncias ilícitas, li apenas umas três páginas de um livro no meu pequeno Kindle virtual. Mas não tem importância. Como Nietzsche escreveu em sua biografia Ecce Homo (1888), quando viveu uma vida nômade entre Nice e Sils Maria, ele não podia carregar muitos livros consigo e lia muito pouco. No entanto, esse período de escassez de leitura foi o auge de sua produção intelectual. Eu também não estou lendo tanto, mas estou escrevendo muito e produzindo textos de qualidade.

 

Recentemente, adquiri o Kindle compacto modelo 2024. Boa parte dos meus livros hoje são digitais, o que lamento, pois prefiro os livros físicos. No entanto, a rotina exige praticidade e meu tempo mudou. Antes, eu usava um Kobo e comprava livros pela loja da Rakuten, mas perdi mais de mil reais em títulos digitais que agora precisarei adquirir novamente pela Amazon, se quiser relê-los, incluindo livros de poesia caros e difíceis de encontrar.

 

Neste texto, quero compartilhar os livros em formato físico que fazem parte da minha formação e do meu gosto pessoal. Não há títulos de filosofia ou pensadores porque, apesar de ter alguns, optei por me ater à literatura ou obras que revelam um pouco mais de quem eu sou. Muitos desses livros estão na casa do meu irmão, mas vou listar os que estão comigo e contar um pouco da história da minha relação com cada um deles.

 

Hitchcock/Truffaut – François Truffaut



 

Adquiri este livro em 2023 durante uma viagem ao interior, quando visitei um cliente e encontrei um sebo maravilhoso. Achei esse exemplar raro, o que me fez voltar para casa com a bagagem cheia de livros. Lembro que o ônibus era confortável, mas também lembro da esposa do cliente, que era uma baita de muito gostosa, que ficou registrado na minha memória. O livro é uma coletânea de entrevistas de François Truffaut com Hitchcock, realizada entre 1962 e 1966. Eles abordam aspectos técnicos, concepções artísticas, e inspirações do mestre Hitchcock, sempre com a sofisticação das entrevistas da Cahiers du Cinéma, onde Truffaut se iniciou. Essas entrevistas são essenciais para quem aprecia o cinema e deseja entender a visão de dois dos maiores cineastas da história.

 

Do Amor – Stendhal

 

 

Este livro tem um significado especial para mim, pois O Vermelho e o Negro, do mesmo autor, é um dos meus livros preferidos de todos os tempos. Na época em que comprei Do Amor, eu estava no auge de um sentimento de paixão não correspondida e queria entender melhor a psicologia e fisiologia desse sentimento. Tomei conhecimento do livro através de uma palestra brilhante do ex-ministro Renato Janine Ribeiro. Identifico-me profundamente com a história de amor não correspondido de Stendhal, e também com a tentativa do autor de reconquistar a mulher amada e se entender melhor ao escrever essa obra. O livro é, ao mesmo tempo, uma reflexão filosófica e um exercício de autoconhecimento sobre o amor.

 

Os Irmãos Karamázov – Fiódor Dostoiévski

 

 

Dispensa apresentações. É Os Irmãos Karamázov, o melhor livro do maior escritor de todos os tempos. O que mais posso dizer? A história de parricídio envolvendo o infame Fiódor Karamázov, um dos personagens mais repulsivos da literatura, é um dos pontos centrais da trama. A obra examina questões profundas de moralidade, culpa e perdão. Karamázov é também responsável por muitos crimes, incluindo o abuso de uma mulher com deficiência mental que deu à luz Smerdiákov, cujo nome etimologicamente e propositalmente faz alusão a “merda”, um personagem que simboliza a podridão do mal. Dostoiévski planejava que Os Irmãos Karamázov fosse o primeiro livro de uma trilogia, que teria Aliócha como protagonista, mas a morte do autor interrompeu essa ambição, para perda da humanidade em si.

 

Memórias do Subsolo – Fiódor Dostoiévski

 

 

Pode repetir o mesmo autor, Arnaldo? Este livro é bem diferente de Os Irmãos Karamázov. É uma obra profundamente existencialista, introspectiva e reflexiva, escrita muito antes de o existencialismo ser uma corrente filosófica. O “Homem do Subsolo” é um personagem intrigante, um misantropo ridículo que vive em negação, até mesmo se recusando a cuidar da dor de seu fígado por pura idiossincrasia. Sua vergonha alheia é o que o define, mas, ao mesmo tempo, há algo de fascinante nele. O livro é uma crítica feroz à sociedade e um retrato da alienação do ser humano. Identifico-me com esse personagem, apesar de seu comportamento deplorável.

 

A Pirâmide Invertida – Jonathan Wilson


 

“Ah, David, um homem tão inteligente assistindo a um esporte bárbaro de homens correndo atrás de uma bola! Você só pode ser gay e gosta de ver a perna depilada dos atletas!” Calem a boca, seus neófitos. A Pirâmide Invertida não é sobre a superficialidade do futebol, mas sobre sua evolução tática e científica. O livro é uma verdadeira arqueologia da história do futebol, desde seus esquemas mais rudimentares até as contribuições da ciência no esporte. Mostra como a mercantilização do futebol, sua profissionalização e a busca por lucro alteraram a natureza do jogo, sacrificando a técnica e habilidade em prol da performance e controle. Ao contrário do que muitos pensam, o futebol sempre foi discutido em círculos intelectuais, incluindo cafés na Suíça, onde as táticas mais sofisticadas eram debatidas. O futebol faz parte de quem sou, e este livro, mais que qualquer outro, ilustra minha paixão por ele.

 

Manual do Dândi – Jules Barbey d’Aurevilly, Charles Baudelaire, e George Brummell

 


 

 

Este livro reúne três ensaios de grandes autores sobre o dandismo, uma instituição estética peculiar que preza pela elegância e pelo individualismo. Barbey d’Aurevilly, Baudelaire e Brummell, cada um com sua visão única, exploram essa filosofia de vida que sempre me fascinou. Antes de sequer ouvir falar de “dandi”, eu já tinha uma ideia intuitiva do que era o dândi, alguém que se destaca pela sua postura, estilo e intelecto.

 

Cem Anos de Solidão – Gabriel García Márquez


 

Este é o meu livro favorito de um escritor latino-americano (fora os brasileiros, claro). Foi com Cem Anos de Solidão que minha imaginação alcançou novos patamares. E foi quando descobri que era possível atingir orgasmos através da literatura por meio de cenas sensuais (Ah, agora descobri com Alline Danielle e também tem uns textos antigos da minha amiga Kathmandu, de tcha nã nã, que são uó. Teu passado te condena, viu, amiga? Rs. Mas eu gosto

), algo que a literatura me ensinou com uma intensidade que eu não imaginava.

 

Adeus às Armas – Ernest Hemingway

 

 

Sempre admirei Hemingway pelos seus contos viris, como O Velho e o Mar e seus contos sobre o Boxe, mas nunca imaginei que ele pudesse escrever algo tão romântico quanto Adeus às Armas. Comprei o livro inspirado por uma pessoa especial que, de alguma forma, me motivou a criar esta página.

 

E vocês? Alguém se identificou com alguma dessas leituras? Quais livros marcaram vocês?

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 26/01/2025
Alterado em 26/01/2025
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