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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

RBOGRO

 

 

E ao poder de uma palavra

Recomeço minha vida

Nasci pra te conhecer

E te chamar – Liberdade – Paul Valéry

 

Na verdade, a palavra que eu tenho em mente que fecha o poema de Paul Valéry não é Liberdade , e sim um nome feminino. Essas letras disformes que nada querem dizer aparentemente “RBOGRO” pra mim têm mais significado do que para qualquer outra pessoa. Eu as buscava todo dia, algumas vezes durante o dia, buscando por qualquer vestígio, uma imagem diminuta, que demonstrasse a sua existência, me lembrasse da sua beleza, ou ingenuamente um sinal de que estava pensando em mim. Ou só por saudades mesmo. Com a mesma afeição do amante que guarda a foto da amada na carteira (alguém ainda faz isso?), assim eu te levava comigo no meu bolso e me lembrava da sua aparência ausente, onde quer que eu fosse, te levava comigo. De certa forma, ainda levo. Tenho as fotos bem guardadas em minha memória. Mas você não está mais lá. Procurava qualquer vestígio, um número de aumento de seguidores que indicava “esse merece a sua companhia que me é negada”, mas aí eu pensava: “Mas ela está bem, isso que importa.” Mas agora até isso me foi privado.

 

Talvez eu olhasse pros seus possíveis pretendentes como a Pasífae olhava para as novilhas que agradavam o touro branco por quem ela era apaixonada, devido à magia, e agradava a ele, e tudo o que ela desejava era também ser uma novilha, para receber o touro sobre suas costas. E ela usava suas roupas luxuosas para agradá-lo, assim como uso minha linguagem pra agradar quem amo. Mas isso não surte efeito, porque ela não é uma novilha e não agrada ao touro, assim como não sou um bom partido pra ela, não sou uma novilha, assim como Pasífae, e aqui o exemplo quase que não é simplesmente uma metáfora.

 

Se quem nutri por mim se acha tão FODA como escreveu, com o nariz tão em pé, o que mostra essa distinção? Afinal, elas resolveram cancelar as suas contas. Onde estão seus pensamentos pra nós comprovarmos que elas são tão únicas, especiais, fodas assim, ao ponto de me designar como um reles criminoso?

 

Eu continuo aqui no Recanto! Minha produção intelectual está aí pra todo mundo ver, julgar, continuo escrevendo, criando, tendo ideias, demonstrando meus afetos, enquanto elas partiram em retirada. E quer saber? Eu sou foda pra caralho! Mando bem pra cacete, como escreveu minha miguxa Kathmandu, e não é falsa modéstia, tampouco pedantismo. É confiança. Não se pode faltar confiança, como Godard disse sobre se achava que faria sucesso com seu filme Le Mépris (1963) e a Brigitte Bardot: o desprezo. Isso é confiar no próprio taco. É exercer a máxima de Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. E excesso de humildade é uma carência, não uma virtude.

Eu sei que elas são fodas, especiais, eu tenho bom gosto e vi essa qualidade nelas, mas será que elas confiam em si mesmas? Porque, se acreditam, por que escrevem só pra si, o anonimato frio da caneta e papel que irá empoeirar e jamais ninguém irá ler? Ao se expor ao escrutínio, mesmo que no alcance mínimo do Recanto das letras, para provar a sua distinção? É preciso ter brio? Ou será que elas obtêm mais satisfação, ou acham algo mais FODA, um desafio intelectual maior, tirar uma foto num restaurante caro e postar no Instagram e contabilizar o número de likes? Pra aí sim, com base nisso, extrair um cálculo da sua felicidade atual de vida? Ou então, receber um comentário daquele médico sarado, elogiando sua foto com um “ai sim gata!”, sem colocar a vírgula no vocativo, porque ele nem sabe o que é vocativo e só Deus sabe como conseguiu chegar a ser médico. Ou $abemo$.

 

É preciso perguntar: afinal, você quer se relacionar como a Pasífae com um touro e dar à luz a uma aberração como o Minotauro? Ou um ser humano de verdade? E o que nos faz humanos? O que nos tornou humanos, se não foi a linguagem?

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 25/01/2025
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