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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Quando o Amor se Torna Fuga

Primeiro, é importante deixar claro que eu não acredito que seja possível amar duas pessoas ao mesmo tempo. Ponto. Não o amor-paixão, que eu compreendo como aquela ternura desinteressada de alguém que encontra outra pessoa para a vida toda. Mas talvez eu tenha decepcionado duas pessoas nos últimos dias, pessoas que nutriam algum tipo de afeto por mim.

 

Na verdade, é relativamente fácil perceber quando alguém gosta de nós. E as semelhanças entre as duas são grandes. Ambas escreveram em algum momento que o amor é para os fortes ou para os corajosos. Mas, não obstante, preferiram a fuga a buscar e viver o amor, pelo medo de se decepcionarem. Eu não sei com que tipo de pessoa elas acham que eu sou. Se sou algum libertino, um sedutor… Uma delas chegou a escrever, bem lá atrás, que eu enganaria ela enquanto “iludiria outras” e, quando me cansasse, ela seria a próxima. Caramba, que ilusão é essa que dura nove anos? Eu sou persistente, então, né?

 

Ambas não têm coragem de falar comigo diretamente, acredito, não por não me acharem interessante ou um bom partido, mas mais uma vez por medo, por falta de confiança, por acharem que vou decepcioná-las se as conhecer melhor no cotidiano, e que sou suscetível a abandoná-las por outras. Mas eu não correria o mesmo risco, e elas se decepcionariam comigo ao descobrirem que sou normal e me esqueceriam por outro? Há um risco no amor, mas é por isso que ele é uma virtude dos fortes. Melhor viver momentos intensos e verdadeiros, que ficam guardados nas memórias e somam experiências reais, do que momentos monótonos de desperdício.

 

Uma coisa eu sei: eu conseguiria satisfazê-las, como o poeta Ovidio, não só com o prazer da minha pena e da língua, sim metaforicamente, na linguagem, mas fisicamente, tativamente, sexualmente. Porque não? Mas ambas são mais bonitas do que eu. Eu não correria o mesmo risco de abandono?

 

Eu me identifico com o personagem do filme O Homem que Amava as Mulheres, de Truffaut, que é baseado no próprio histórico de amor do diretor francês pelas mulheres, uma espécie de alter ego. O personagem, Charles, tinha as mulheres como indispensáveis. Isso me identifica, mas nunca era visto como homem, onde me distancio. Eu me identifico no sentido de que ele não era necessariamente bonito, mas era muito educado com todas as mulheres e no trato de todas as idades, sabendo lidar com cada uma delas. No filme, isso fica evidente, mas ele também encontrou a rejeição.

 

Ele tinha um diário em que registrava todas as suas aventuras, e ele tinha amor pela literatura, outro ponto de conexão entre nós. Mas ele não era calculista, nem nada disso. Apenas o instinto e a necessidade da presença das mulheres o guiavam. E assim sou eu. No seu funeral, só havia mulheres jogando buquês em seu leito. Talvez muitas ainda se lembrem de mim com carinho, até hoje, de como eu passei em suas vidas. Algumas, sequer sei o nome. Mas eu não guardo registros, um caderno. Não há nada de cálculo nos meus gestos, apenas deixo-me levar pela gentileza, pelo ato de tirar um sorriso, um prazer.

 

Outras, sou muito mais tímido e, na vida real, fora de ambientes de barzinhos e baladas, e mesmo nesses locais, só tomo coragem quando estou sob efeitos de álcool ou substâncias. Eu só interajo se percebo que a mulher está muito interessada.

Deixo fluir, deixando acontecer organicamente, sem pressão, de forma natural.

Fora desses locais, nas redes sociais, onde exerço a linguagem, sou mais desinibido.

 

E voltando aos meus amores frustrados, as duas não cumpriram a promessa de não romper contato jamais. A última foi pior, porque fez isso de forma oficial, não anônima, depois de eu me comprometer com ela. Ela nem sequer me deu uma chance. Escreveu que o amor é para os fortes, mas preferiu desistir. Nas palavras dela, mas para mim seria melhor traduzido como fuga, por medo. E isso é uma fraqueza: covardia. O amor é virtude dos fortes. Deve ser por isso que eu nunca vivi o amor.

 

O prazer vivi, em alguma medida. Eu não gosto do momento do orgasmo, porque é quando tudo acaba. Eu gosto do momento da troca de afetos, das preliminares, de ver, olhar, de sentir, os fluxos, os corpos, as conexões, a intensidade até o auge do tesão, que não consegue se expressar senão com alguma obscenidade. Mas sou também romântico. Como diz Drummond, acho lúdico o batom a fugir de uma boca a outra, e o auge do prazer não é o orgasmo, mas o ápice da síntese da intimidade, expressa nas três palavras: “Eu te amo” no final.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 25/01/2025
Alterado em 25/01/2025
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