Assim como Sócrates afirmou no diálogo O Banquete, de Platão, tudo o que aprendi sobre amor devo às mulheres. E não propriamente no sentido amoroso do amor-paixão, mas também no amor-amizade. Então, é claro que sim, existe amizade legítima e fiel entre homem e mulher, quase como entre irmãos.
Ao longo da vida, tive boas amigas mulheres. Na faculdade, no meu círculo, havia mais mulheres, o que fazia até as pessoas questionarem minha sexualidade. Foi logo no começo da minha vida de trabalho que uma colega me introduziu ao conceito de P.A., que significa “pinto amigo” – aquele amigo com quem as mulheres mantêm uma amizade colorida e recorrem na hora em que sentem desejo e querem transar. Elas ligam para o P.A.
Talvez eu já tenha sido P.A. de algumas, ou tenha guardado amizades coloridas com amigas. Para além da amizade, recebi na calada da noite mensagens no WhatsApp como: “Oi, sumido” ou “Tá sumido, bb”. Nossa, odeio ser chamado de “bb”. Só de escrever isso, meu sangue ferve. Se relevo, é por muita boa vontade – nisso, entenda: vontade de transar.
Mas, sinceramente, prefiro uma amizade sadia, legítima, sem envolver nada em troca, a não ser a amizade. Algo como o que há entre dois homens, mas nunca será exatamente igual, porque mulher é diferente. Mulher é poeta por natureza, mais empática, sabe ouvir, reconhecer o belo. Com algumas, o vínculo afetivo de amizade é tão profundo que faz desaparecer qualquer sentimento sexual. É como irmãos mesmo, a ponto de nem se pensar nisso.
Meu colega – o da aventura do ménage, que também achei que deve estar envolvido com a enfermeira – eu questionei. Ele disse que eles são muito bons amigos, que brincam, mas que ela é muito virtuosa e não permite nada além da amizade. Mas, como ele é um safado, completou: “Mas eu tento, se ela der brecha.”
Eu não gosto dessa coisa de traição. A ideia da traição é vulgar, e eu prego a anti-vulgaridade. Como uma pessoa elegante que sou, nunca namorei, mas, se tivesse algo sério, minha vocação seria ser fiel.
Off topic:
Aproveitando o ensejo, quero falar algo que não sei como encaixar em outra crônica. É uma pena que, sempre que publico algo novo, textos antigos – que também são bons – acabam ficando para trás, esquecidos, sepultados no esquecimento. Mas o que quero dizer aqui é que, a prova de que não me enquadrado no estereótipo de junkie ou de adicto, e as pessoas não percebem ou sequer desconfiam do meu histórico.
Meu colega, que já teve um passado pesado com dependência química e trabalhou diretamente comigo, disse que jamais imaginou que eu usava. Pela minha aparência, educação e elegância, ele nunca percebeu. Só desconfiou uma vez, quando peguei uma carona com ele e comentei que “já vivi umas paradas”. Mesmo depois de ficar um mês afastado com atestado médico, ninguém jamais desconfiou.
Voltando ao tópico: aqui mesmo no RL, fiz grandes amizades. São pessoas que amo de coração, mesmo sem conhecê-las pessoalmente. Seus escritos criaram uma afinidade entre nós que transcende a distância. Não vou citar nomes, para não correr o risco de esquecer ninguém, mas quero deixar claro que são amizades puras, sem qualquer segunda intenção.
No entanto, há uma pessoa em especial a quem apelidei carinhosamente de “professora”. Ela apareceu na minha vida como um raio, um furacão – algo abrupto, que impacta intensamente, mas que parece estar destinado a passar rapidamente. Infelizmente, ela não cumpriu a promessa de continuarmos nos correspondendo.
Para além da amizade, posso dizer que amo essa pessoa, assim como amo minhas outras amigas. Mas, talvez, com ela, não seja apenas amizade. Não sei ainda se é amor-paixão, mas amo suas qualidades, suas virtudes, sua companhia.
E o melhor da amizade entre homem e mulher é justamente isso: quando, em um vínculo de vida, você descobre que sua melhor amiga pode ser, ao mesmo tempo, sua companheira. Esse é o melhor dos mundos. E essa minha busca: que a minha mulher seja, ao mesmo tempo, também a minha melhor amiga!