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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

A DOR DE SER REJEITADO POR QUEM SE AMA

Como lidar com a dor inerente a uma rejeição, e pior, da pessoa a quem você guarda a mais alta estima, o maior apreço e afeto? Anos de dedicação e troca de sentimentos, imortalizados nesta página, jogadas na lata de lixo por conta de uma frase irreversível e desmedida, talvez irracional. Ou demasiadamente racional? Motivada por quê? Ciúmes, medo, despeito? Ou tudo isso junto?

 

Mas, algumas vezes, o não de uma pessoa diz mais sobre ela, sobre sua visão de mundo e seu comportamento, do que sobre você mesmo. Mas dói, efetivamente dói.

 

No belo filme Malena, de Giuseppe Tornatore, vemos o olhar platônico sob os olhos pueris de uma criança voltados para uma mulher mundana. E, no momento de reflexão, ternura, maturidade e introspecção para o garoto, ele chega à conclusão: “que o amor platônico, que não se espera nada em troca, é a única forma de amor verdadeiro”. Nesse sentido, então, posso afirmar que eu amei de verdade.

 

O que motivou Stendhal a escrever O Romance do Amor (De l’Amour), publicado em 1822, foi uma tentativa de reconquista à Duquesa Mathilde Dembowski, uma aristocrata milanesa, a quem ele perdeu o amor só porque a seguiu contra o consentimento dela durante uma viagem. O amor feminino tem dessas idiossincrasias. Mesmo amando, sua vaidade feminina, uma vez que seu orgulho foi ferido, jamais voltará atrás, mesmo que, com isso, tenha que viver triste na solidão, ainda que continue amando.

 

É o caso de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, em que a personagem Amaranta se sente preterida por Pietro Crespi, que preferiu ficar com Rebeca, que, por sua vez, desistiu do casamento para ficar com seu irmão cigano e nômade, Aureliano Segundo. Quando Pietro Crespi se deu conta da sua beleza, ela, apesar de amá-lo, disse para ele nunca mais pisar na sua casa, o que culminou em seu suicídio. Depois disso, ela queimou a própria mão no fogo para se infligir uma dor física, a fim de ocultar sua dor emocional e vazio existencial. Mas ela continuou preterindo pretendentes e acabou sozinha, afogada em sua própria solidão e no seu mar de fel, que ela criou para si mesma.

 

Por isso, para mim, isso não é demonstração de força, mas uma forma de fugir, para evitar possíveis frustrações e evitar a dor, em vez de viver os momentos de amor, a vida com intensidade, ainda que breves, mas eternos. Eu já escrevi inúmeras vezes como os momentos de monotonia geram desperdício de vida e que os raros momentos que gravam na memória é que dão razão à nossa existência. Mas, ao me rejeitar, a pessoa parece ter escolhido uma vida de conforto, estabelecendo relações dentro da sua bolha e círculo social, esterilizada, sem contato com o sofrimento do mundo, se relacionando com parceiros que podem ser atraentes, mas, a longo prazo, não terão o que dizer, não serão boa companhia, não terão nada para agregar em sua vida. Mas ela fez a sua escolha. Talvez ela ache que possa continuar me acompanhando à distância, quando quiser se distrair do dia a dia de monotonia.

 

E eu, se ela quis me infringir alguma dor ou sofrimento com a rejeição, embora internamente tenha sentido, porque meu sentimento é verdadeiro e respeito uma história de mais de 8 anos e não jogo no lixo, mas estou no meu auge desde que a conheci, cuidando da mente e do corpo. E, se ela busca os valores que rejeitou em mim (status, dinheiro, posição social), disponho de tanta força de vontade que sou capaz de readquiri-los, não porque eu almeje, mas só para fazê-la feliz e ela não ter como me dizer não, sem precisar prestar esclarecimentos para sua família, e até possa fugir comigo para onde bem quiser. Eu sou capaz de fazê-lo, mas por alguém que me ame, não alguém que transforme minhas virtudes em crimes, dizendo que vai acionar a polícia e advogados contra mim.

 

O que, para algumas pessoas, são enormes privilégios, ela quis inverter e transformar meu ato de amor em crime, e isso é imperdoável. A minha razão mostra uma pessoa totalmente sem sentimentos e sem empatia, que não merece sequer consideração e que eu volte a citá-la neste nobre espaço literário. Ainda pedi, com educação, que não me bloqueasse, pelo nossa história e o amor que lhe devotei, que me permitisse saber da sua existência somente pela simples imagem diminuta de um quadradinho e sua descrição na na rede social, que pra mim já era suficiente. Não pedi que me respondesse, para não pressioná-la, mostrando preocupação para que ela não se sentisse perseguida, mas ela transformou meu amor em ato criminoso, demonstrando a mínima consideração, invertendo os valores.

 

Se isso dói, é claro que dói, mas diz mais sobre ela do que sobre mim. Como Primo Levi se perguntou em sua biografia: “É isso um homem?”, eu pergunto: “É isso uma mulher?”

 

Enquanto estou com a espinha ereta, encerro o texto citando um poema de Leminski, que eu sei de cor, como inúmeros que tenho na memória:

 

Moinho de versos

Movidos a vento

Em noites de boemia

Vai vir um dia

Em que tudo que diga

Seja poesia.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 25/01/2025
Alterado em 25/01/2025
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