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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

O SUBMUNDO “PROIBIDO” DE SÃO PAULO

Como a famosa frase do Mike Corleone para se referir ao mundo do crime: “Quando penso que estou fora, eles me colocam de novo pra dentro.” E assim é minha vida com o obscuro, o proibido, o prazer, o submundo. Talvez esse texto escandalize os leitores mais sensíveis, mas é a vida como ela é, já diria Nelson Rodrigues. E iirei relatar desde a experiência que tive hoje – meu primeiro ménage à trois sem ser com duas mulheres – e até como descobri o submundo do sexo voyeurístico de São Paulo. Como vêem, não estou de brincadeira nesse texto. E, como não tenho mais esperança de reaver a união que tinha com a pessoa que amava – e é até improvável que ela leia esse texto –, me sinto livre pra me expor.

 

Aliás, parece que ninguém se interessa por mim atualmente. Até minha vizinha, que não mora mais com a mãe, veio visitá-la e, quando me viu chegar, deu de ombros e não demonstrou o menor sinal de interesse. Esse texto é uma declaração de como já não espero formalmente nada e um chute no balde de como eu já não espero mais nada da pessoa que eu amava (ainda amo, pra falar a verdade). Pela franqueza com que tratarei esse assunto, talvez ela se dê conta – e outras também – de que eu não sou a pessoa certa pra ela.

 

Assim como Dorian Gray, o pecado parece me chamar. E ele se mostrou na figura do meu colega de trabalho. Vocês vão se lembrar dele da minha crônica Objetivo Atualizado, do Recanto das Letras, e Anatomia do Corpo, que foi o texto que ao mesmo tempo teve a audácia de desagradar duas pessoas que “mantinham” afeto por mim. Ele é o galanteador, bonitão, que se parece com o Paulo Ricardo do RPM jovem, que queria me levar pra Bangkok caso ganhasse na Mega-Sena e que gosta de trair a esposa.

 

Sabe da jovem que pegou o contato dele que eu relato na crônica para marcar uma massagem? Ela tem um rosto muito bonito e um corpo que me agrada, embora pese 74 (nós pedimos essas informações pra marcar as consultas). É o que os americanos chamam de “chubby”. Pois eles ficaram conversando até tarde aquele dia. E eu não comentei, mas ela era separada e nos recomendou pra não casar. Era nítido que ela estava aberta demais para o nosso lado, muito simpática, até mais comigo do que com meu amigo. Ela me disse que era professora da rede pública, e ficamos falando mal da prefeitura e do Nunes. Mesmo sabendo que ele era casado, os dois marcaram um “almoço” perto da casa dele, em Taipas. E, segundo meu colega, ela ficou toda hora falando de mim, que me achou muito bonito, elegante, educado e simpático. Isso foi ontem.

 

Aí, ele me disse que tentaria marcar os exames pra ela, mas que não precisava passar no posto pra buscar, que ele mesmo levaria. Não deu certo. Mas ele disse que, como ela falasse muito de mim, quem sabe ela não gostava de algo a três, um ménage à trois. E eis que, quando estava na academia hoje de manhã escrevendo o texto sobre amor e paixão ser uma doença à luz de Stendhal enquanto corria na esteira (sim, fui capaz de escrever um texto daquele enquanto me exercitava, enquanto alguns passam a vida inteira sem ser capazes de escrever algo parecido), recebo uma ligação desse mesmo colega dizendo pra eu encontrá-lo urgente, umas 11 horas, na estação perto da casa dele, que ela topou nos encontrar.

 

No começo, fiquei meio ressabiado, porque nunca participei de um ménage à trois com outro homem. Não gosto da visão de outro homem nu. Pra mim, a visão do homem pelado é abominável. Mas, de tanta frustração que eu estava passando, e pra buscar aliviar a dor (amorosa) que eu estava sentindo, recorri a buscar um novo prazer, uma nova aventura sexual, pra não ter que recorrer a aditivos. Então, de lá, nos encontramos com ela e fomos pra um lugar que meu amigo conhecia. E devo dizer: foi uma primeira experiência prazerosa pra todos. Mas, com certeza, mais prazerosa pra ela (risos).

 

O meu amigo se declarou bissexual, algo que eu já imaginava pelos frequentes elogios que ele fazia de mim e da minha aparência e pela insistência de que eu comparecesse e de tanto que ele falava que gostava de fazer ménage. Mas, como ele viu que não era minha onda, me respeitou. Nos demos bem, deu tudo certo e acabou sendo uma experiência prazerosa pra todos e nos uniu.

 

Eu não tenho problema com minha própria nudez diante de outros homens nem de ver outros homens nus – como já disse, na internação isso era bem comum –, mas, aí, na prática sexual, é muito diferente. Pra mim, sexo é um momento muito íntimo de duas pessoas. E, embora tenha sido prazeroso, eu ainda prefiro sexo a dois.

 

Não obstante, meu amigo me revelou o submundo do sexo de São Paulo. E agora é que a barra fica pesada, e, se você se escandaliza fácil, pare de ler por aqui.
 

Ele me relatou a existência de uma praça no Alto da Lapa, de São Paulo, um local de gente rica, bem localizado. A praça é um local ermo e não fica à vista. No local, ficam diversas pessoas à espera, muitos homens. É quando para uma limusine e desce uma mulher deslumbrante, de vestido luxuoso, de mãos dadas com o marido. Nisso, os homens se aproximam da mulher, a despem e fazem com ela o que bem entendem sob o olhar do marido, que obtém nisso um prazer voyeurístico. Tudo de graça. Só há uma regra: só pode fazer sexo com camisinha. E o marido só observa pra garantir que não haja abusos ou algo que ela prefira ou rejeite. Do resto, tá tudo liberado. 

 

E ela “interage” com vários ao mesmo tempo, e meu colega participou, me relatou e me convidou pra esse submundo. E as mulheres são as mais bonitas possíveis, ricas, parecendo saídas de revistas caras, sofisticadas. Estranhos os prazeres da burguesia aristocrática. E isso a cada 20 e 20 minutos.

 

Meu colega também me falou – e mostrou – que já pegou várias pacientes na sala onde atendemos o público. Ele me mostrou fotos e me relatou o modo como ia fechando a sala pra que ficassem sozinhos. Ele começava abordando profissionalmente, mas, se a mulher dava trela e interesse, ele marcava de se encontrar. Assim como Dorian Gray foi instruído por Lord Henry a se render ao hedonismo e à corrupção, assim fui ouvindo meu colega, como um discípulo.

 

Ele e eu fazemos uma boa dupla. Ele me lembra demais meu colega que me inseriu no mundo dos entorpecentes. Boa aparência, bom porte físico. Nós parecemos a dupla do filme Irreversível: Vincent Cassel, bonitão, atlético; e Albert Dupontel, o filósofo, sofisticado e inteligente. Eu ajudo meus companheiros a pegar mulheres. Minha elegância chama atenção, e meu porte esbelto contrasta com a aparência de gala deles. E eu sei “tabelar” legal, deixar na cara do gol. Não sou “empata foda”, muito pelo contrário: já ajudei muitos amigos a salvar o rolê. Já aconteceu de um carro cheio e de mulheres parar do lado do nosso e a gente baixar o vidro pra continuar a conversa e marcarmos de nos encontrar.

 

Voltando ao meu colega, essa troca de experiências nos uniu. Eu relatei meu problema com dependência química e, pra minha zero surpresa, ele me contou que também é ex-dependente, que está há oito anos limpo. Que era usuário de cocaína também, mas injetável e que sofreu duas overdoses em que quase faleceu.

 

Hoje, ele é casado, tem um filho lindo, super educado, um amor de pessoa, a bondade em forma de criança. Ele adotou a filha da esposa e é um pai exemplar, apesar dessas loucuras. Bom, todos nós temos esses dois lados: Apolo e Dionísio.

 

Contei minhas histórias pra ele, e, de um lado, essas narrativas nos uniram. Estamos mais próximos, e eu o adotei como padrinho. Ele ficou muito feliz, mas, no final, me aconselhou que, pra mim, é melhor não me envolver por enquanto em “aventuras”, pra não gerar euforia – pelo menos por enquanto. Ele imprimiu os 12 passos da recuperação pra mim, que eu agradeci, mas joguei fora porque não acredito nisso. Creio mais na minha bagagem intelectual adquirida com muito esforço e na minha força de vontade.

 

E é isso, pessoal. Um relato cru e visceral do submundo de São Paulo, do sexo, das drogas e da vida de um jovem tentando encontrar o amor no meio da escuridão. É como no final de A Doce Vida, quando a jovem inocente e pueril aponta para o personagem de Marcello Mastroianni, representando o amor, chamando-o para esse caminho. Ele dá adeus e volta pra libertinagem. Mas, no meu caso, é com lágrimas nos olhos, porque tudo o que eu quero é segurar na mão da jovem, não largar mais pelo resto da vida e ser fiel com mais intensidade do que fui imprudente.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 24/01/2025
Alterado em 24/01/2025
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