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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

NÃO AMARÁS

Krzysztof Kieślowski é um diretor polonês que ficou mundialmente conhecido principalmente por sua Trilogia das Cores, composta pelos filmes A Liberdade é Azul (1993), A Igualdade é Branca (1994) e A Fraternidade é Vermelha (1994). O filme mais famoso da trilogia é A Liberdade é Azul, meu preferido, estrelado por Juliette Binoche, absolutamente soberba no papel principal. As cores dos títulos remetem intencionalmente aos ideais da bandeira da França: liberdade, igualdade e fraternidade.

 

Além da trilogia, Kieślowski dirigiu uma minissérie para a televisão estatal polonesa chamada O Decálogo (1989-1990), composta por dez episódios, cada um inspirado em um dos Dez Mandamentos. A série aborda temas universais e profundos de maneira cinematográfica, com cada episódio funcionando como um filme de cerca de uma hora de duração.

 

Um dos episódios, baseado no mandamento “Não cobiçarás a mulher do próximo”, teve tanta repercussão que o diretor decidiu transformá-lo em um longa-metragem intitulado Não Amarás (1988). O filme conta a história de Tomek (nome do protagonista), um jovem de 19 anos que trabalha nos correios e mora com uma mulher mais velha que o criou. Ele desenvolve um romance platônico e obsessivo com Magda, uma vizinha bem mais velha que mora no apartamento em frente ao seu. Ele rouba um telescópio para espioná-la, e as cenas de observação lembram muito Janela Indiscreta, de Hitchcock. Ele descobre os inúmeros amantes que a mulher recebe no apartamento e observa tudo com um misto de ciúmes e prazer voyeurístico. Porém, quando ela está prestes a chegar ao orgasmo com algum de seus amantes, seu amor não permite que ele continue olhando, e ele fecha os olhos. Seu amor e pudor jamais permitiriam que ele se masturbasse vendo essas cenas.

 

A obsessão dele chega ao ponto de interceptar correspondências dela, descobrir seu telefone e ligar para sua casa, apenas para escutar sua voz, ouvir sua respiração, sentir sua proximidade. Um dia, ele decide entregar leite no apartamento dela, tentando se aproximar. Ele confessa ingenuamente os seus sentimentos, mas ela o recebe com frieza e indiferença, achando graça da juventude e inocência dele. Contudo, por se sentir desejada e amada, ela decide seduzi-lo. Coloca as mãos dele no próprio corpo e pergunta se ele gosta. Só com isso, Tomek chega ao orgasmo. Então, com frieza, ela diz: “Gostou? O amor é isso?” Tomek, constrangido e frustrado, sai correndo do apartamento.

 

Magda, arrependida, tenta se aproximar, mas descobre pela mulher com quem Tomek mora que ele tentou se matar cortando os pulsos. Ele sobrevive, mas corta qualquer laço com Magda. No final, ela, tomada por remorso, começa a olhar pela janela, buscando por ele, mas ele já não está mais lá.

 

Essa história mostra como o amor-paixão pode ser doloroso e um sentimento platônico, idealizado. É um fruto de frustração e dor, que, como em tantos exemplos na literatura, no cinema, na arte e na vida real, frequentemente acaba em tragédia.

 

No meu caso particular, eu amava uma pessoa, expus meus sentimentos, e, com essa exposição, me distanciei de conhecer pessoas reais, de viver relacionamentos intensos e verdadeiros, trocando tudo por uma fantasia que eu guardava na imaginação. E que presente eu tenho com ela? Se ela não quer me ver nem pintado de ouro? Aliás, talvez pintado de ouro ela quisesse, porque, ao me preterir e não querer contato comigo, ela deixou claro quais são seus critérios de “bom partido” e visão de mundo. Talvez ela procure alguém justamente pintado de ouro, com status social, para que ela mantenha a pose.

 

Se por algum motivo ela tem interesse em mim, deve ser pela vaidade de saber que tem alguém “cool”, diferente, culto, instruído, desejando inocentemente ela. Isso deve gerar algum prazer. Mas, para um relacionamento, ela prefere um mundo de aparências e superficialidade.

 

Eu lembro do meu ex-sócio, um grande sedutor, que me disse uma vez que virou assim depois de se frustrar na adolescência, quando teve seu amor rejeitado. Desde então, passou a viver pelo prazer. Ele era escroto, do tipo que tirava proveito das pessoas. Uma vez, ele me disse que tirou a virgindade de uma colega com quem trabalhávamos. Ela era tímida, recatada, tinha mais de 25 anos e nunca tinha se envolvido com ninguém. Ele se gabava de como dizia para ela que só teria prazer com ele e que, se quisesse um príncipe encantado, procurasse outro homem. Para provar o “amor”dela, ele tomava pinga 51 antes para ela sentir o bafo propositalmente.

 

Depois de um tempo, fiquei com ela, e ela me confessou que se arrependeu profundamente de ter cedido a ele, porque gostava de mim, mas como eu nunca tomei a iniciativa, ela acabou cedendo ao charme dele. Ele também seduziu uma jovem aprendiz que trabalhava conosco, e que se apaixonou por ele. Na época em que éramos sócios, ele, junto com outro colega, saía comigo em baladas de endereços nobres em São Paulo. Éramos solteiros, empresários, de boa aparência, e isso facilitava as coisas.

 

Mas nunca encontrei o amor nessas experiências. Ou ele sempre fugiu de mim. Parece que “não amarás” é uma máxima que me persegue. Por isso, decidi me entregar ao caminho mais fácil, que é o do prazer. Começarei relatando uma experiência inédita de hoje mesmo, que talvez frustre ou choque leitores mais sensíveis.

 

O que é uma pena, porque eu tenho vocação para ser fiel a uma só mulher, escolhê-la como companheira para toda a vida. Eu não acredito na traição. Vejo meu irmão, marido e pai exemplar, e sei que também poderia ser um homem ideal. Mas o caminho do desejo e do prazer me chama, enquanto o amor continua se escondendo.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 24/01/2025
Alterado em 24/01/2025
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