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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

O AMOR-PAIXÃO É SEMPRE EGOÍSTA.

Transpenumbra”

Tempestade

que passasse

deixando intactas as pétalas…

você passou por mim

as tuas asas abertas

passou

mas sinto ainda uma dor

no ponto exato do corpo

onde tua sombra tocou

que raio de dor é essa

que quanto mais dói

mais sai sol?”  - Paulo Leminski.

 

O amor é sempre um ato egoísta. Como diz Autora Diva, em seu texto, ele é uma patologia, e a mesma chegou a apagar sua conta devido a esse mesmo sentimento aparente. A pessoa que ama reivindica para si o objeto do seu amor e não quer compartilhá-lo com mais ninguém. Quem ama verdadeiramente também não deseja estar com mais ninguém. O amor é, portanto, um produto da seleção natural, um recurso genético para que as pessoas não traiam e escolham melhor seus parceiros, de forma a gerar a melhor prole. Os frutos desse amor serão direcionados à prole e à criação mútua.

 

É claro que, no momento em que estão se apaixonando, os amantes não se dão conta racional desse mecanismo, mas o subconsciente da genética está atuando. O amor-paixão, portanto, é sempre egoísta.

 

Ninguém falou melhor sobre o amor sob uma perspectiva psicológica e fisiológica do que Stendhal, brilhante escritor francês. Suas reflexões em Do Amor foram baseadas, especialmente, em sua paixão não correspondida por Mathilde Dembowski, uma aristocrata milanesa.

 

Para Stendhal, existem quatro tipos de amor:

 

1. Amor-Paixão

 

É o tipo mais intenso e exaltado de amor, caracterizado pela entrega total e pela idealização do outro. O amante projeta qualidades quase divinas no ser amado, e a relação se torna a principal razão de existir. Esse amor frequentemente leva a estados de euforia ou sofrimento extremo.

 

2. Amor de Gosto

 

Também conhecido como “amor de galanteria”, é mais leve e racional, baseado no prazer mútuo e na apreciação das qualidades do outro, mas sem envolvimento emocional profundo. Ele é típico das cortes aristocráticas, onde a sedução e a diversão prevalecem.

 

3. Amor Físico

 

Trata-se do amor baseado no desejo carnal, no instinto sexual. Não há idealização nem comprometimento emocional, sendo puramente físico e impulsionado pela atração.

 

4. Amor por Vaidade

 

Surge do desejo de ser admirado ou de conquistar alguém como uma espécie de troféu, mais para satisfazer o próprio ego do que por verdadeiro afeto ou paixão.

 

O enfoque no amor-paixão que é propósito desse texto e de Stendhal.

 

Para o amor-paixão surgir, o primeiro passo é a admiração. Você admira alguma qualidade do outro, como personalidade, inteligência ou beleza.

 

Depois, vem o desejo, aquele momento em que você pensa: “Que delícia deve ser dar-lhe beijos e abraços.”

 

Então, surge uma mínima esperança de que o nosso amor possa ser correspondido.

 

Em seguida, nasce o amor, e com ele o conceito que Stendhal chama de cristalização. O amante começa a atribuir qualidades extraordinárias ao ser amado, vendo nele perfeições que muitas vezes não existem. Essa idealização, por vezes, é um reflexo do nosso modelo narcisista, projetando qualidades inexistentes ou engrandecendo as que existem.

 

Com o tempo, surge a fase da dúvida: “Será que ela me ama mesmo?” Após superar as dúvidas e as incertezas – que nunca desaparecem completamente –, ocorre a segunda cristalização, em que o amor se fortalece ainda mais. O amante reafirma suas idealizações e o desejo torna-se ainda mais poderoso, criando uma ligação quase inquebrável.

 

Essa análise psicológica e até fisiológica que Stendhal faz mostra como o amor é, de fato, uma patologia. Ele se assemelha a uma doença, como a dependência química, e superar uma paixão é quase como passar por uma abstinência, com consequências físicas e psicológicas.

 

Portanto, é um ato egoísta alguém que, tendo recém-adquirido um afeto por você – seja um amor-paixão ou um amor de gosto –, esperar que você esqueça de uma hora para outra a pessoa que antes amava, especialmente considerando o caráter patológico do amor-paixão, as fases das cristalizações e ainda mais um vínculo de 8 anos.

 

Uma pessoa em processo de amor alimenta esperança, desejo e planos com o objeto amado. Amar não deve ser egoísta ao ponto de negar esse processo. O amor é tão egoísta que alguém pode aceitar um histórico de dependência química, considerando-o parte do passado, mas não aceitar que exista um passado amoroso.

 

O amor é para os corajosos. Desistir pode ser um ato de força, mas lutar é para os mais fortes ainda, onde os fracos não têm espaço. No entanto, desistir é diferente de fugir. Fugir é uma forma de covardia, e covardia é uma fraqueza. O amor não é para os fracos; o amor é para os fortes.

 

Beijos, para os fortes.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 24/01/2025
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