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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Adorei Cem Anos de Solidão - Netflix

Quero escrever essa resenha com a mesma responsabilidade com que adaptaram, para o formato audiovisual, magistralmente, esse grande clássico do realismo mágico de Gabriel García Márquez. Não vou contar a história toda, mas o texto conterá apenas pequenos spoilers do livro. Então, se você ainda não leu ou não viu a série, presenteie-se a você mesmo conhecendo-os. De preferência, leia o livro, claro, mas, se estiver com pressa, a série não deixa a desejar.

 

Assisti a essa adaptação depois de ver Round 6 e, em termos de qualidade artística, não tem a mínima comparação. É como comparar uma bolsa Prada com uma sacola de supermercado (mas daquelas reutilizáveis). Isso não quer dizer que eu tenha odiado a segunda temporada de Round 6, mas, definitivamente, a adaptação de Cem Anos de Solidão foi muito mais impressionante.

 

A adaptação da aclamada obra foi muito bem feita, com composições de cenário lindas, que remetem à estética de fábula onírica e fantástica surrealista, mas ao mesmo tempo foi uma reinterpretação fiel do livro. Algo, apenas, que causa certo incômodo é a passagem do tempo e a mudança dos atores que interpretam os personagens ao longo da trama, já que, muitas vezes, eles não se parecem muito. No entanto, com o tempo, acabamos nos acostumando. Como a história se desenrola ao longo de muitos anos, não há muito o que fazer, a menos que fosse adotada a solução artística de usar os mesmos atores e esperar que eles envelhecessem naturalmente, como foi feito em Boyhood, Chatô (por questões técnicas) ou na trilogia de Richard Linklater. Porém, isso atrasaria a produção em décadas e seria inviável.

Claro, como se trata de uma filmagem, houve algumas liberdades criativas, especialmente em passagens muito mágicas, como a subida de Remédios, a Bela, aos céus. Na série, essa cena é tratada de maneira diferente, mas pés no chão, mas não vou revelar para evitar spoilers.

 

O que posso dizer, sem revelar muito da história, é que Remédios não é filha de Arcádio, mas sim de uma nova personagem, que será o prefeito da cidade de Macondo, Sr. Moscote. O que se mantém é o fato de Aureliano se apaixonar por ela ainda criança. Como a série toca em tabus, como o casamento entre irmãos e a relação incestuosa entre tia e sobrinho, não poderia ser diferente, já que é baseada no livro. No entanto, a série faz pequenas mudanças.

 

Cem Anos de Solidão não rendeu o Prêmio Nobel de Literatura a Gaba apenas pela sua escrita de um lirismo incrivelmente belo, real e mágico ao mesmo tempo, mas também porque a história é rica, empolgante e aborda muitos temas que sempre assolaram a existência humana: como a guerra entre liberais e conservadores, a relação do ser humano com a fé e a Igreja Católica, o esoterismo (como alquimia, magia, misticismo, bruxaria), suicídio, solidão, mas também o amor e a morte.

 

A série tenta capturar a mesma essência de sensualidade original da escrita de Gabriel García Márquez, mas, honestamente, aqui não se compara com o livro. As passagens mais instigantes, lascivas e sensuais, na minha memória, são muito mais marcantes na descrição de Gabriel do que na série. Como, por exemplo, a primeira relação de Rebeca com José Arcádio, que, na série, foi bem diferente do que me lembro do livro.

 

Pelo modo como a série terminou, tudo indica que haverá uma sequência, uma segunda temporada. Mal posso esperar. Recomendadíssima.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 10/01/2025
Alterado em 10/01/2025
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