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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

A Sabedoria de Viver o Agora: Como o Tempo Molda Nossa Felicidade

Um dos mais proeminentes pensadores do tempo é Santo Agostinho. Em suas Confissões, ele afirma que, se me perguntam sobre o tempo, na minha cabeça eu sei o que é, mas se tenho que explicar, não consigo. No entanto, ele explica que sempre que pensamos no tempo, o fazemos no presente, em nossa consciência atual. Então, o mais correto seria dizer que há três modos de tempo: o presente do futuro, o presente do pretérito e o presente do presente. Nietzsche, por sua vez, via, na tendência dos pensadores de buscar a verdade, uma desconfiança contra o tempo e uma busca pela sua paralisação. Isso porque, para eles, o fluxo do tempo gera mudanças, alterações, e a verdade é imutável, ideal, não muda jamais. Para Nietzsche, ao contrário, o tempo é fluído e necessário, e aquilo que chamamos de verdade é meramente a sensação de bem-estar, apaziguamento e prazer que a crença nessa verdade gera em nosso corpo. O desconhecido, por outro lado, nos evoca desconforto. É por isso que muitas vezes colocamos nossa mente em tempos passados, já conhecidos, ou futuros, imaginados, como um paraíso idealizado ou o mundo das ideias, ou até o paraíso cristão.

 

Heráclito, filósofo pré-socrático, também enfatizou a ideia de que tudo está em constante mudança, dizendo que “não se pode entrar no mesmo rio duas vezes”. Essa afirmação reforça a visão de que o tempo, e as experiências que ele traz, são fluidos e inconstantes, de modo que não vivemos a mesma experiência duas vezes da mesma forma. A natureza da mudança constante e a imprevisibilidade da vida conectam-se diretamente à forma como o tempo é vivido e percebido por cada indivíduo. O tempo, portanto, não é algo fixo, mas sim algo que está sempre em movimento, mudando nossa percepção e nossas experiências.

 

Outro notável pensador sobre o tempo, no qual esse conceito é central na compreensão de sua obra, é Henri Bergson. Para Bergson, há o tempo mecânico, que é o tempo medido pelo relógio, o tempo da ciência, e o tempo intuitivo, ou o tempo vivido, que é a nossa experiência subjetiva do tempo, como ele é sentido por cada indivíduo, o tempo da alma. Esse é o tempo das marcas que as experiências vividas deixam em nossa mente.

 

É aqui que as ideias de Bergson se conectam com as de Thomas Mann em A Montanha Mágica. Em momentos de diversão, o tempo passa rápido. Nos de monotonia, pelo contrário, passa lentamente. Segundo Bergson, isso se deve a como nossa consciência grava o que ele chamou de “duração”, que é a maneira como nossa mente interpreta subjetivamente a passagem do tempo, fazendo com que os momentos felizes sejam percebidos como rápidos e os monótonos como lentos. Esses conceitos se conectam diretamente com a ideia bergsoniana de memória e intuição. A memória é o modo como nosso cérebro registra e acessa os momentos presentes (memória habitual e automática, como dirigir um carro) e lembranças ou recordações (memória pura), mas isso sempre é feito a partir do momento presente, como afirmava Santo Agostinho.

 

As experiências que vivemos, cujas durações de tempo passam rapidamente subjetivamente na nossa mente, a nossa memória pura as registra como grandiosas, como viagens, momentos de diversão, primeiras experiências de vida, o primeiro beijo, a perda da virgindade, etc. As experiências que carregamos na vida são acessadas sempre no momento presente por meio da intuição, que é um conhecimento diferente do conhecimento racional ou científico, intelectualizado. Trata-se de um conhecimento baseado na experiência. É aquele conhecimento dos nossos avós, adquirido com a maturidade, o tipo de saber que nos diz: “Não sei por quê, mas algo me diz que não devo tomar esse caminho.”

 

Agora, sem mais verborragia filosófica e passando para exemplos práticos do cotidiano: às vezes, vivemos o momento presente pensando no futuro e acabamos desperdiçando o agora. Por exemplo, estudamos para o vestibular, pensando que a felicidade estará quando nos formarmos. Mas, então, finalmente nos formamos e não encontramos a felicidade. Achamos que a felicidade estará na pós-graduação, mas obtivemos o mestrado e ela ainda nos escapa. Então projetamos a felicidade em outra coisa, sempre no futuro. E aí, sucessivamente. O momento presente sempre está ausente, se esconde.

 

No trabalho, esperamos pelo momento do happy hour. O próprio nome já indica: “happy hour”, ou seja, todos os outros momentos no trabalho não têm valor. Eu, como adicto, também nunca vivia o presente. Sempre ficava ansioso, pensando na próxima dose. Minha cabeça nunca estava no momento agora, na satisfação do instante. Eu estava consumindo já pensando na próxima dose, na próxima rodada, em como consegui-la, em fazer com que jamais ela me faltasse, nesse aprisionamento e sequestro do tempo presente. No trabalho, eu já pensava no futuro, em voltar para casa, para consumir. Minha cabeça nunca estava no presente, e isso é terrível. É a destruição.

 

Por fim, volto à filosofia de Nietzsche, que via o tempo como um ciclo sem fim, num eterno retorno. Em Assim Falou Zaratustra, Nietzsche usa uma metáfora: dizendo que, se um demônio aparecesse e nos dissesse que este instante vivido, esta vida, se repetiria, da mesma forma, cada dor ou prazer, cada acontecimento, você amaldiçoaria ou bendizeria o demônio? Se você afirmasse a vida, é porque está vivendo uma vida boa; se amaldiçoasse, é porque as coisas vão mal.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 10/01/2025
Alterado em 10/01/2025
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