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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Meu Auge e Declínio: O Abismo e o Ápice de um (ex) Viciado

O título é para chamar atenção. Abismo, fundo do poço… Talvez eu não tenha conhecido de fato e, por Deus, espero não conhecer. Mas, se de alguma forma aconteceu, foi no momento da internação, em 2022. Costumo dizer que sou dependente químico desde 2015, mas isso não é totalmente verdadeiro. Em 2015, experimentei pela primeira vez, mas quando isso começou a se tornar uma doença, uma adicção, não sei precisar. Foi em algum momento posterior.

 

Por exemplo, não tenho dúvidas em identificar 2016 como o ano mais rico da minha vida no sentido de “produção” intelectual, aprendizado e capacidade cognitiva. Eu estava com uma facilidade incrível para aprender e para expressar o que aprendia. Encontrava amigos no bar e discorria sobre assuntos complexos, como filosofia e questões existenciais, de forma eloquente e envolvente. Não sei se sou capaz de fazer isso hoje.


Naquela época, tinha um acervo vasto de vocabulário, e as palavras simplesmente me vinham com facilidade. Eu construía discursos de forma natural. Não sei explicar. Estava tão absorto no meu mundo de leituras e aulas – uma espécie de êxtase, semelhante ao de José Arcadio Buendía ao se entregar às suas obsessões em Cem Anos de Solidão, mas sem perder o equilíbrio e a razão, e, claro, sem ser amarrado a uma árvore – que o aprendizado parecia incorporado em mim, tornando fácil transmitir o conteúdo.

 

Nunca fui professor ou algo do tipo, nunca tive essa aptidão. Aliás, sempre fui tímido ao falar para multidões, por isso minha retórica só funcionava em ambientes informais. Hoje, sinceramente, não me vejo mais capaz disso. Se consigo elaborar um raciocínio mais complexo, é apenas por meio da escrita.

 

Naquela época, eu também consumia muitos conteúdos culturais. O canal Arte 1 era o que eu mais assistia: documentários de cinema, dança, arte em geral, música. Assistia também alguns programas no canal Bis. Não sei exatamente quando foi a ruptura, quando tudo isso se perdeu, ou se minha capacidade intelectual realmente se deteriorou devido ao uso de substâncias, ou apenas está adormecida em algum lugar do meu subconsciente.

 

Acho que o ponto fatal foi quando comecei a descobrir as biqueiras perto de casa. Antes, eu precisava ir até o centro para comprar, o que dificultava o acesso. A história de como descobri uma biqueira perto de casa é, no mínimo, patética.

 

Lembram do auge do Pokémon Go? Eu estava com o celular, jogando, perto da estação onde moro, em um lugar que eu pouco frequentava. Por causa do jogo, acabei indo lá e percebi uma movimentação suspeita. Logo identifiquei que era uma biqueira. Perguntei se tinham o produto e, assim, descobri. Foi assim que começou.

 

Por causa do trabalho, eu conhecia muito pouco do meu próprio bairro, frequentava mais as regiões centrais. Mas, com o tempo e devido à adicção, conheci todo tipo de biqueira no meu bairro. E, aí, as coisas degringolaram de vez.

 

Um fato importante, que servia como um ponto de interseção entre mim e o vício, foi quando meu irmão se mudou. Enquanto ele estava em casa, ele era como meu superego. Eu me controlava, não passava dos limites. Mas, desde que ele foi embora e se casou, talvez tenha perdido esse controle.

 

E é isso. Esse foi o ensaio do declínio e auge de um grande gênio da raça (rsrs, contém ironia).

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 09/01/2025
Alterado em 09/01/2025
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