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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Onde Me Distancio da Pessoa que Amo

Além da diferença de classe social, posso afirmar que ela é bem nascida, enquanto eu nasci e sempre fui criado na periferia. Embora boa parte da minha vida social e de trabalho tenha sido em regiões mais centrais, ela frequentou excelentes colégios e cursinhos ao longo da existência, enquanto eu sempre estudei na escola pública. Ela é filha de médicos, pelo que consta, enquanto eu sou filho de simples funcionários públicos de baixo escalão. Ela é herdeira de um bom capital cultural e simbólico, acredito que sua família tem relevância na cidade onde nasceu. Por outro lado, há diferenças comportamentais, pelo que percebo, ainda que as semelhanças e afinidades, pelo que sinto na alma e no coração, sejam maiores do que todas essas distâncias que carregamos. Mas aqui não quero falar de determinismo social, e sim de comportamento, hábito, talvez herança genética. Antes, quero divagar e contar um pouco de minha história.

 

A barreira social de classe nunca foi um impeditivo para eu me relacionar. Já me relacionei com garotas bem acima da minha classe social, algumas médicas veterinárias, empresárias, alunas da FGV, PUC, apesar de nunca ser oficialmente apresentado aos pais delas. Na verdade, eu nunca namorei seriamente em 33 anos de existência. O mais próximo que cheguei disso foi com a Natália, aos 12 ou 13 anos, filha do pastor da igreja que eu frequentava.


Faço um aparte para falar da Natália, que tem uma história muito lúdica e poética de como me apaixonei: estávamos visitando outra igreja, onde o pai dela era pastor, e lá estava ela, fantasiada de princesa. Me apaixonei logo que a vi, com o cabelo channel, algo como a Natalie Portman em “O Profissional”. Então o pai dela e ela se mudaram para a minha igreja. Um dia, quando eu já estava apaixonado, ela veio com os pais comer pizza em casa. Eu, não sei se tímido ou simplesmente viciado em videogame na época, preferi ficar jogando Resident Evil 3, o aclamado jogo de terror da Capcom do Playstation 1, a ver o meu amor na época, ainda que estivesse acompanhada de tanta gente. Acho que, no fim das contas, o fato de saber que nada de fato aconteceria com nossos pais presentes foi o que me desmotivou. Por isso, não desci e preferi continuar jogando videogame. 
 

Felizmente, meses depois… 

 

Houve uma excursão para o sítio de uma prima minha, na qual ela foi. Dei a ideia de brincarmos de “verdade ou consequência” durante a viagem de ônibus. Já sabendo da nossa queda, talvez recíproca, meu amigo desafiou eu e ela a ficar alguns minutos no banheiro, fétido, sozinhos. Mesmo assim, nesse breve instante, nos beijamos. Quando voltamos para nossas poltronas, não nos desgrudamos mais por uns bons meses, até que eu parei de frequentar a igreja. Não havia celular ou computador na época, e perdemos o contato. Foi o fim do meu possível namoro.

 

Mas voltando ao que de fato é a maior paixão da minha vida, a pessoa que amo, aquela que julgo minha alma gêmea, e que, ainda assim, destoamos na área que eu mais admiro: esforço, dedicação, disciplina. Na verdade, eu nem a conheço profundamente; a gente não conversou muito bem para eu conhecê-la além dos seus escritos. Mas dá para notar que ela deve ser uma ótima aluna, esmerada. Viveu sozinha por um tempo em cidades grandes e inóspitas, como São Paulo e Ribeirão Preto, nem sei se ela tinha parentes próximos ou amigos por perto ou estava inteiramente só. Mesmo assim, manteve a disciplina rigorosa de estudo até passar no vestibular, se formar, pós-graduar, algo bem distante da minha realidade. Por isso eu a admiro tanto.

 

Embora eu tenha duas formações, mas pagas, em cursos de tecnólogos de dois anos, em áreas bem técnicas — comércio exterior e gestão da qualidade —, nem se comparam aos 6 anos de estudo de Medicina, mais a formação em Pediatria, que ela exerce, acredito eu. Mas não quero falar muito para preservar o anonimato, e, de qualquer forma, não cito nomes nem dou informações que possam revelar sua real identidade. Aliás, às vezes nem eu sei qual é essa real identidade (rsrs). Ah, mas um dia, ao procurar saber sobre ela no Facebook, me deparei com uma informação muito interessante e instigante sobre a personalidade dela: um comentário de uma amiga dela numa foto, dizendo que quem olha para a aparência angelical dela nem imagina os maus bocados pelos quais ela já passou por causa dela, o que revela uma certa rebeldia oculta, um lado dionisíaco talvez, algo como no filme “Cisne Negro”. Já assistiu, amor? Estou louco para conhecer esse seu outro lado, para além da sua face angelical.

 

Comigo, você sabe que pode ser você mesma, sem guardar segredos, pois, afinal de contas, eu mesmo me desnudei inteiramente para você (a não ser que seja uma história que vá me provocar ciúmes, aí prefiro não saber).

 

A ideia do paraíso cristão é tão adorada e desejada, por prometer que as almas se encontrarão finalmente em um paraíso eterno, onde não haverá barreiras sociais para atrapalhar o amor. Mas eu não posso esperar tanto tempo, morrer para ser feliz, comprar a aposta de Pascal. Eu preciso viver o paraíso de estar com ela aqui, nesta existência. E eu farei o possível para vivê-lo, o quanto antes.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 07/01/2025
Alterado em 07/01/2025
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