No trem, durante a consulta pela manhã, avistei uma jovem garota cuja beleza curvilínea, suave e harmoniosa do rosto me paralisou. Chamou minha atenção de imediato. Apesar de ela aparentar uma idade em que poderia ser considerada quase uma Lolita — e, caso houvesse qualquer mal-entendido entre nós sem o devido consentimento dela, isso poderia me trazer problemas —, sua beleza não era algo comum.
Não era uma beleza trivial, mas algo mais característico do leste europeu: um rosto delicado, perfeitamente delineado, um todo de rara perfeição. Linda, linda.
Olhei para trás algumas vezes, e tenho quase certeza de que ela percebeu minha admiração.
Mais do que isso: acho que ela e sua irmã mais jovem notaram — e sorriram. A irmã pequena, em especial, não conseguiu disfarçar muito bem. A jovem retribuiu o olhar algumas vezes, mesmo que brevemente.
Naquele dia, eu estava particularmente bem vestido — algo que me é natural, característico. Usava uma camisa social listrada em azul e branco, da Dudalina, feita de algodão egípcio, linha slim fit, easy iron (não amassa e fácil de passar), aberta sobre uma camiseta preta confortável, calça preta de ótimo caimento e tênis esportivos. Um estilo esporte-chique, casual. Meu tradicional Ray-Ban Wayfarer, cuja lente levemente tingida de marrom, acrescentava uma aura de mistério e intelectualidade ao meu olhar. Talvez isso tenha chamado a atenção de alguém tão jovem.
De todo modo, como diz Thomas Mann, “a beleza é uma forma de pensamento”. Ela é transcendente, capaz de aumentar nossa potência de agir. Ao sair do trem, fiz questão de caminhar por alguns vagões até a porta onde ela estava, com a nítida sensação de que estava sendo observado.
Contudo, olhar aquela jovem não me despertou pensamentos lascivos. Pelo contrário, senti uma vontade quase instintiva de protegê-la, de preservar aquela beleza de toda a maldade do mundo, para que nada de ruim jamais a atingisse.
Mas, se um dia ela quisesse se entregar ao pecado… ah, que fosse comigo!