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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Passarei a Virada do Ano Sozinho

Aqui, a vida se mostra como é, despida de ilusões. Minha história não é um capítulo de Malhação, O.C. ou Gossip Girl. Aqui, lidamos com a crueza do real, e a realidade é dura. Enquanto muitos celebram o início de 2025 imortalizando momentos em cliques perfeitos no Instagram — retratos de uma felicidade que parece intocável — eu estarei em casa, sozinho, enfrentando as agruras de uma abstinência que se desenha em meu corpo e mente.

 

Minha mãe partiu para passar o Réveillon na casa do namorado. Eu fiquei. Não invejo aqueles que exibem suas vidas em família, viagens meticulosamente planejadas, ou momentos harmônicos que sugerem uma perfeição inalcançável. Sei que, por trás das máscaras que encenam esses espetáculos de felicidade, há imperfeições, dramas ocultos e silêncios desconfortáveis. Quantas vidas como as de Ivan Ilitch, Brás Cubas ou Gatsby se escondem por trás dessas fachadas brilhantes? Às vezes, a dor genuína é preferível a uma felicidade inventada, pois é nela que a verdade reside.

 

Tolstói abriu Anna Kariênina com uma verdade incontestável: “Todas as famílias felizes se parecem; as infelizes, o são cada uma a seu modo.” Há uma beleza trágica em aceitar a singularidade da dor, pois ela, diferente da felicidade, é inimitável.

 

Não quero soar ressentido. Minha intenção não é atacar as celebrações, mas denunciar a hipocrisia que muitas vezes as veste. Há quem brinde, quem dance e sorria, mas, no íntimo, carrega ausências que nenhuma festa preenche.

 

Nietzsche é um exemplo de alguém que transformou o sofrimento em força. A vida dele foi marcada por dores físicas intensas, mas jamais o vi questionar “Por que comigo?”. Ele fez da dor um instrumento criativo, uma obra que celebra a vida em sua totalidade, dores inclusas. “Amor fati” — o amor ao destino — foi sua fórmula para abraçar tudo o que a existência oferece, o belo e o terrível.

 

Nietzsche escreveu, em uma passagem carregada de dor, melancolia e também esperança: “Se eu não aprendesse a alquimia de transformar essa bost* em ouro, não sei o que faria.”

 

As dores que hoje me consomem — físicas, emocionais, ou ambas — podem ser sementes de algo maior. Quem sabe, no mesmo dia do próximo ano, eu celebre sob circunstâncias diferentes: com saúde renovada, com novas companhias, ou até mesmo só. Mas se estiver sozinho, estarei bem, pois nunca me canso da minha própria companhia. Estar comigo mesmo é um prazer que poucos entendem.

 

Essa concepção difere da ideia simplista de felicidade coletiva, da felicidade de rebanho. Quem pode, afinal, definir com certeza o que é ser feliz? Talvez, na serenidade de um momento comigo mesmo, no prazer dos meus próprios pensamentos, eu já esteja mais próximo dela do que imagino.

 

Feliz ano novo, meus amigos.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 31/12/2024
Alterado em 31/12/2024
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