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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

AS DELÍCIAS DO JARDIM DE EPICURO

 

Epicuro, um filósofo do período helenístico (e não pré-socrático, como às vezes se confunde), é amplamente reconhecido por sua filosofia que define o sentido da vida como a busca do prazer e a evitação da dor. Embora seja uma filosofia hedonista, ela não promove a busca desenfreada por prazeres. Para Epicuro, nem todos os prazeres trazem felicidade duradoura. Em algumas situações, é até preferível suportar uma dor, desde que dela venha um prazer maior no futuro. Por isso, ele propõe que o ser humano aja sempre com razão, aplicando um “cálculo hedonista” para avaliar se determinado prazer vale a pena.

 

A filosofia de Epicuro é profundamente prática e visa o “bem viver”. Ela não é apenas uma ferramenta para adquirir conhecimento, mas um guia para alcançar a tranquilidade da alma e do corpo. Epicuro também é um filósofo materialista, acreditando que corpo e alma são inseparáveis e compostos de átomos. Sua filosofia divide-se em três partes:

 

1. Canônica: Trata do método de investigação da verdade e da natureza.

 

2. Física: Afirma que tudo o que existe é composto de átomos e vazio.

 

3. Ética: A mais conhecida, aborda a melhor forma de viver, enfatizando a busca racional pelo prazer e a redução da dor.

 

Para Epicuro, os prazeres não são todos iguais.

Ele os classifica em três tipos:

 

1. Naturais e necessários: Essenciais para a sobrevivência, como comer, beber água ou descansar. Atender a essas necessidades gera prazer e é indispensável para a vida.

 

2. Naturais, mas não necessários: Relacionados a desejos naturais, mas que vão além do essencial. Por exemplo, buscar alimentos sofisticados ao invés de apenas saciar a fome. O sexo também entra nessa categoria: é um prazer natural, mas não essencial para a sobrevivência individual.

 

3. Não naturais e não necessários: Desejos que não têm relação com as necessidades básicas, como a busca por luxo, poder ou consumo de bens supérfluos. No mundo atual, isso inclui prazeres incentivados pela publicidade, como adquirir produtos apenas para ostentação.

 

Epicuro defende que devemos priorizar os prazeres do primeiro tipo, pois são os mais fáceis de obter e geram menos sofrimento. Não há problema em desfrutar dos prazeres do segundo tipo, mas é necessário temperança, ou seja, moderação e bom senso. Ele alerta contra os prazeres do terceiro tipo, pois frequentemente trazem mais dor e tormento do que alegria.

 

Por exemplo, um libertino pode enfrentar consequências sérias de suas ações, como doenças venéreas ou conflitos emocionais ao se envolver em relacionamentos impróprios. Da mesma forma, prazeres como o consumo excessivo de álcool ou drogas podem parecer atraentes inicialmente, mas levam a grandes padecimentos no corpo e na alma. Epicuro ensinava que, às vezes, é preferível suportar uma dor momentânea — como a abstinência de uma substância viciante — para alcançar um prazer maior e duradouro, como a saúde e a sobriedade.

 

O objetivo final de sua filosofia é a ataraxia, ou seja, a tranquilidade da alma. Para Epicuro, a alma não é algo místico, mas apenas um conjunto de átomos capaz de sentir e pensar. Segundo o filósofo, todo prazer é bom, desde que esteja isento de dor no corpo e tormento na alma.

 

Embora a filosofia de Epicuro não faça apologia ao hedonismo vulgar, muitas vezes ela foi mal compreendida. Alegava-se, por exemplo, que nos “Jardins de Epicuro”, onde ele ensinava e praticava sua filosofia, ocorriam diversas orgias. Essa visão distorcida contrasta com a essência de sua ética, que preza pela moderação e pelo raciocínio.

 

Grande parte do que sabemos sobre Epicuro vem de fragmentos de sua obra e do poema Da Natureza das Coisas, de Lucrécio, que preservou muitos de seus ensinamentos. Mesmo tendo vivido séculos antes de Cristo, suas ideias continuam práticas e relevantes hoje. 

Boa parte de seus escritos, infelizmente, foi queimada pela Igreja Católica, por serem considerados hereges, assim como grande parte do conteúdo filosófico produzido por aqueles que não compartilhavam de suas crenças.

 

Às vezes me pergunto se os seres humanos de hoje realmente merecem meu esforço intelectual de divulgar as ideias desse que é um dos maiores filósofos de todos os tempos. Mas, de todo modo, faço isso mais pelo meu próprio prazer — um prazer satisfatório, que não traz dor nem ao corpo, nem à alma — e pela satisfação de talvez compartilhar com quem amo algo que considere interessante. Não quero que minha página seja apenas um repositório de desgraças, mas sim um espaço que transmita otimismo para a vida.

 

Pelo contrário, se alguém mais sábio do que eu souber extrair lições daqui, poderá encontrar paz e conforto capazes de transformar sua perspectiva de vida.

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 30/12/2024
Alterado em 30/12/2024
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