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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Sobre Amor e Outras Drogas

Chamar o amor de droga é uma provocação. Mas, de certa forma, o efeito no cérebro pode ser igualmente avassalador. O amor libera dopamina, distorce a realidade, altera percepções — tal como uma substância que nos invade sem pedir licença.

 

Meu histórico com o amor, mesmo quando me vejo cético, inclinando-me a chamá-lo de ilusão, tem sido algo que me faz bem. É por isso que faço questão de comunicar o que sinto, de registrar cada emoção com sinceridade. Acredito que, ao longo desses anos escrevendo, tenho sido honesto sobre quem sou, sobre o que penso, sobre o que amo, sobre meus vícios e virtudes.

 

Há casais que comemoram bodas de ouro, décadas de convivência, sem nunca terem a oportunidade de conhecer um ao outro tão profundamente quanto a pessoa que amo tem a chance de me conhecer através dos meus relatos e escritos. Em cada palavra, há uma parte de mim que se revela, que se desnuda, e isso, para mim, é uma forma de intimidade mais verdadeira do que qualquer coisa que o silêncio ou o não-dito poderia proporcionar.

 

Mas acredito que o amor também é coragem. Assim como tive a ousadia de expor minhas vulnerabilidades, meus vícios, minhas dores e alegrias, espero que a pessoa que amo perceba que nem sempre as escolhas socialmente mais aceitas são aquelas que nos trazem felicidade genuína. Muitas vezes, essas escolhas nos afastam daquilo que somos na essência, transformando-nos em personagens que se moldam para agradar o mundo, mas que traem a nossa singularidade.

 

Já abordei em outros textos como cada um de nós abriga múltiplos “eus”, sujeitos que emergem e desaparecem conforme nossos corpos e mentes interagem com o mundo (Somos muitos em um Só). Mas nossa “personalidade oficial” — aquela que exibimos para o mundo — muitas vezes é apenas o reflexo das expectativas sociais que nos cercam. E essas máscaras, como mencionei no texto O Mundo da Tabacaria, podem, com o tempo, nos despersonalizar. Perdemos de vista quem realmente somos, sufocados pelas demandas de ser o que esperam de nós.

 

É por isso que acredito que, se a pessoa que amo voltasse a praticar a escrita com frequência, isso poderia lhe trazer de volta um diálogo consigo mesma, uma reconexão com sua própria essência. Escrever tem sido meu porto seguro, meu espaço de liberdade criativa e de verdade íntima. Mesmo que ninguém leia minhas palavras, apenas saber que existem é o suficiente para saber que estou vivo. Como dizia, Nietzsche na época de ostracismo e era desconhecido, “sinto que não existo, mas nunca deixei de dar provas de quem sou”. Minha página no Recanto, é essa prova. Mas compartilhá-las com quem amamos, certamente dão um significado muito maior para o que eu escrevo.

E eu? Sempre estaria presente, como leitor, se soubesse da existência da página dela em que ela compartilhasse também seus pensamentos, seus anseios, suas ideias, etc.

 

Quanto a mim, hoje foi um dia de abstinência — tanto de diazepam quanto de cocaína. Não senti muitos sintomas adversos, mas tampouco fiz algo produtivo. Não li uma única página de livro, nem criei nada. Apenas descansei, sem conseguir dormir realmente. Um cansaço denso tomou conta de mim, junto a uma apatia discreta. Mas me alimentei bem, passei bem.

 

Os primeiros três dias são os mais delicados. Requerem paciência, cuidado. Amanhã será um novo dia. Espero estar mais disposto, ao menos para ler, para absorver o mundo de outra forma. Estou em casa, em férias, e é Natal. Meu irmão virá, e com ele meu sobrinho, que me produz uma alegria amorosa e revigorante.

 

Só isso já me anima. Só isso já me faz bem.

 

Feliz Natal, meus amigos.

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 24/12/2024
Alterado em 24/12/2024
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